Johnny e June é um filme mediano, que mesmo trazendo um
roteiro extremamente problemático, acaba valendo a pena pela sua direção e o
talento de seus atores.
Começando com uma breve passagem pela infância de Johnny
Cash (Joaquin Phoenix), o longa logo em seguida já pula para a adolescência do personagem, o
acompanhando em sua ascensão à fama, o seu relacionamento com June Carter (Reese Witherspoon), e,
posteriormente, sua luta contra as drogas.
O primeiro dos vários erros do roteiro escrito por James
Mangold e Gill Dennis, é a construção do pai de Johnny, que se mostra uma
figura extremamente unidimensional, que durante toda a projeção apenas profere
crítica e insultos ao filho, soando muito mais repetitivo e artificial do que
autoritário.
A ascensão do protagonista também é retratada de maneira
falha, já que em nenhum momento fica claro o que ele fez para se diferenciar
tanto e tão rapidamente. O relacionamento com a primeira esposa também é
construído de maneira artificial, mas pelo menos funciona como obstáculo
dramático para o relacionamento de Johnny com June.
E é exatamente aí que o filme encontra o seu ponto forte. O
relacionamento dos dois protagonistas funciona muito bem, e acaba por sustentar
o filme e até disfarçar levemente os erros citados acima.
June surge como uma figura carismática, reforçada pela ótima
performance de Reese Witherspoon, e seu interesse por Johnny (e vice-versa) e
plausível, e o roteiro finalmente acerta por se apoiar nesse romance, evitando
uma narrativa unicamente episódica, que só interessaria os fãs que já conhecem
a história do cantor.
Joaquin Phoenix também se destaca, tanto ao representar os
vícios do personagem, quanto nas cenas de apresentações, e graças ao seu
excelente trabalho, Johnny Cash não apenas agrada os seus já conquistados fãs,
como se transforma em um personagem real e carismático.
A direção James Mangold acerta não apenas da direção de
atores, como também cria cenas de shows empolgantes e enérgicas, utilizando
músicas já conhecidas do cantor em prol da narrativa e não apenas para agradar
os ouvidos.
Deixando um pouco a desejar em seu designe de produção, que
perde a oportunidade de criar um visual marcante em sua reconstrução de época,
Johnny e June acaba sendo um filme com vários defeitos, mas com interessantes
qualidades, que consegue agradar – ainda que levemente – tantos os fã quanto os
não conhecedores de Johnny Cash. E mesmo que as músicas e as atuações se
mostrem mais interessantes do que a história em si, pelo menos o diretor tem consciência
disso e consegue explorar ao máximo o potencial da obra – mesmo que este seja
pequeno.
O. K. |
João Vitor, 28 de Fevereiro de 2015
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