As Aventuras de Tintim
Steven Spielberg faz o que sabe, e faz bem
Steven Spielberg é um cineasta admirável. É difícil não se
impressionar com O Resgate do Soldado Ryan,
se emocionar com E.T: O Extraterrestre,
ou se divertir com Indiana Jones e Os
Caçadores da Arca Perdida. Mas, infelizmente, filmes como AI: Inteligência Artificial e Cavalo de Guerra provam que o cineasta
tem uma queda para o melodrama que estraga até mesmo bons projetos. Dessa
forma, a cada nova obra há sempre a expectativa de um grande filme, mas também
a ameaça de um fracasso.
Felizmente, esse não é o caso de As Aventuras de Tintim, já que se trata de um filme divertidíssimo,
e que apesar de previsível consegue fazer com que o espectador se importe com
os personagens e se envolva nas cenas de ação.
A história gira em torno de Tintim (Jamie Bell), um jovem
repórter que após comprar um barco em miniatura se vê perseguido por Sakharine
(Daniel Craig), e após ser preso por este e conhecer o capitão Haddock (Andy
Serkis), o rapaz se envolve em uma caça ao tesouro e muitos segredos.
Utilizando as liberdades proporcionadas pela animação a seu
favor, Spielberg aproveita para criar planos impossíveis de se filmar com uma
câmera física, “voando” entre os cenários e atravessando objetos, e com isso
aumentando a urgência de cenas movimentadas, deixando-as mais compreensíveis e
interessantes (destaque para o plano-sequência que mostra uma perseguição em
diversos veículos pela cidade, que é brilhantemente cuidadoso em todos os
detalhes).
Outro acerto de Spielberg é a utilização de cortes
memoráveis de um acontecimento para outro. Em especial quando transforma o mar
de uma cena em uma poça d`água de outra, e quando faz um aperto de mão virar
uma montanha.
Não posso deixar também de elogiar o uso do 3D, uma
tecnologia cada vez mais mal utilizada, mas que aqui é trabalhada com cuidado,
sem apelar para objetos voando em direção ao espectador ou câmeras subjetivas
dispensáveis, contribuindo para a diversão do filme principalmente nas
cenas que possuem fragmentos voando pela tela e nas que se passam no mar.
Escrito por Steven Moffat (Doctor Who e Sherlock), Edgar
Wright (do excelente Scott Pilgrim Contra o Mundo), e pelo novato Joe Cornish,
o roteiro não consegue fugir da previsibilidade da história, mas ainda assim
estabelece personagens carismáticos, um vilão ameaçador, e diálogos inspirados
(por exemplo: “Minha memória não é mais a mesma” “E como ela era?” “Esqueci”).
A trilha sonora é de John Williams, parceiro de longa data
do diretor, e que mais uma vez é muito competente. Caindo como uma luva à
narrativa, seus temas marcantes contribuem para deixar tudo mais empolgante, em
especial as cenas de ação.
Ainda assim, o filme tem seus deslizes. Nada que comprometa
a obra, mas a impedem de ser excelente. Além da já citada previsibilidade da
trama, há algumas cenas que possuem demasiada aventura em situações
dispensáveis, o que acaba sendo um pouco anticlimático (principalmente a sequência
que envolve a captura de uma chave que não é importante e a que se passa fora
de um avião em pleno voo, que parecem existir apenas para criar fases de um
possível jogo para vídeo game).
Deixando ainda um gancho para uma possível sequência (que
espero realmente que aconteça), As
Aventuras de Tintim cumpre seu propósito com eficiência, divertindo e
empolgando. Além disso, é mais um acerto de Steven Spielberg – o que é sempre
algo a se comemorar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário