Zack Snyder pode estar longe de ser o visionário que as
campanhas de seus filmes tentam vender, mas tampouco é desastroso como uma
parte do público gosta de sugerir. Sua carreira, mesmo que curta, tem uma relativa
regularidade: três filmes muito bons (“Madrugada dos Mortos”, “Watchmen” e “300”),
dois bons (“A Lenda dos Guardiões” e “O Homem de Aço”) e apenas um desastre (“Sucker
Punch”). E este seu novo trabalho, “Batman vs Superman”, acaba entrando em um
novo grupo: o de apenas “O. K.”, sendo um filme que cumpre sua função, mesmo
que a falta de foco e o negligenciamento de alguns personagens atrapalhem
bastante.
A trama se passa dois anos após os eventos ocorridos em “O
Homem de Aço”, quando o Superman (Henry Cavill) divide opiniões entre o país.
Enquanto alguns o encarram como um salvador, muitos o consideram uma ameaça,
dentre eles Bruce Wayne (Ben Affleck), que ao mesmo tempo também faz uma
investigação envolvendo o cientista Lex Luthor (Jesse Eisenberg), que está
tentando descobrir maneiras de controlar o poder de krypton.
O filme se inicia muito bem, fazendo duas coisas importantíssimas
de maneira bem rápida. Primeiro, resume em poucos minutos a história do Bruce
Wayne (afinal, não faria sentido perder muito tempo nisso, pois a última
franquia do herói acabou não tem nem quatro anos) e ainda meio que corrige um
erro do “O Homem de Aço”, dando uma humanizada nos eventos que ocorreram no
clímax daquele filme, que pecava justamente pelo exagero da destruição sem que
sentíssemos o peso ou o tamanho daquilo para os habitantes da cidade. Sem
contar que essa breve sequência também já funciona para criar o ressentimento
entre o Batman e o Superman, que praticamente move o filme.
Mas a partir daí o roteiro encontra seu maior problema: a
falta de foco. Ao ter que lidar com vários personagens e várias subtramas (os
problemas de Clark Kent no jornal, seu relacionamento com Louis Lane, a
investigação do Batman, o atrito entre os dois, os experimentos de Luthor, um
personagem paralítico que quer vingança, o processo judicial envolvendo uma
senadora, o mistério da Mulher Maravilha, e por aí vai...) o filme acaba
ficando sem um centro emocional e a única coisa que o sustenta é a eminência do
confronto entre os personagens principais – que só irá acontecer no final.
Mas conforme as subtramas vão se encontrando, e as motivações
dos personagens vão ficando mais claras, o roteiro flui muito bem e finalmente
encontra seu centro, utilizando Clark Kent como protagonista (afinal, o
personagem é mais complexo que Bruce Wayne, pois já foi construído no filme
anterior) e seu relacionamento com sua mãe e sua namorada como âmago emocional.
Já o Batman acaba deixando bastante a desejar em relação à humanidade e
complexidade como personagem, já que seu objetivo é única e exclusivamente
derrotar o Superman. Não sabemos quase nada de sua vida pessoal, e seus traumas
acabam soando artificiais por causa disso. E levando em consideração que um dos
momentos chave do filme (o que termina o confronto entre os dois heróis) tenta funcionar
se sustentando em sua humanidade, isso acaba sendo um problema ainda maior do
que normalmente já seria. Mas também vale dizer que o seu ressentimento em
relação ao Superman é plausível e o personagem tem presença (ainda que muito
disso se deva ao que o espectador já conhece sobre ele de outros filmes).
Em relação ao elenco, Jeremy Irons como Alfred acaba sendo
um dos maiores destaques, conseguindo ser marcante mesmo com um papel pequeno. Ben
Affleck peca por não conseguir humanizar o personagem (ainda que o roteiro não
ajude), mas convence pelo ressentimento e a dedicação com a qual seu personagem
pretende buscar vingança. E ainda que Jesse Eisenberg exagere um pouco nos
maneirismos de Lex Luthor, conforme a trama avança seu personagem acaba surpreendendo
pela inteligência e funciona como uma ameaça real (mesmo que suas motivações
não fiquem claras).
Particularmente, gostei bastante de como o diretor Zack
Snyder voltou a utilizar algumas de suas marcas registrada que haviam sido
deixadas um pouco de lado em seu trabalho anterior, como a recorrente câmera
lenta e o visual estilizado que remete aos quadrinhos. Gosto muito da sequência
que envolve o assassinato dos pais de Bruce (o colar de sua mãe arrebentando
com o tiro do revólver pode até parecer exagerado, mas acho muito interessante
como isso conversa com o visual de HQs), e a cena que envolve Batman em um deserto
e outra que traz Superman salvando uma criança de um incêndio também merecem
destaque, além de lembrarem muito o trabalho do diretor em “Watchmen” (que é
possivelmente seu melhor trabalho).
Além disso, o diretor se mostra hábil em criar tensão (como
na primeira aparição do Batman, que o traz quase como um animal) e cumpre o que
promete pelo título do filme – as sequências envolvendo o confronto entre os dois
personagens principais são ótimas. A única coisa que acaba atrapalhando é a
fotografia demasiadamente escura, que não apenas “mata” o 3D, como também deixa
muitas das sequências de ação confusas até mesmo em 2D.
Vale dizer também que o clímax é bem problemático, não só
por se estender demais (na verdade é quase como se fossem dois clímaces
seguidos), como também por se render a inúmeros clichês do gênero, como o
cronômetro que corre contra o herói, o facho de luz colorida, a arma especial com
apenas uma munição, um personagem que chega no segundo exato para salvar outro,
etc. Mas apesar disso, é necessário aplaudir a trilha sonora de Hans Zimmer e Junkie XL, que
mesmo reutilizando algumas ideias já presentes nos recentes filmes do Batman,
consegue empolgar e ter momentos verdadeiramente originais (gosto muito da
pegada rock que surge no clímax quando aparece a Mulher Maravilha).
Tendo ainda sua dose de “fan service” (os fãs da Liga da
Justiça vão ficar particularmente satisfeitos), “Batman vs Superman” compre o
que promete e vale o ingresso. Não é o melhor filme do ano (nem mesmo entre o
gênero de super-heróis) e com certeza vai incomodar quem já não gosta do
diretor, mas é suficientemente divertido e interessante para não parecer perda
de tempo.
O.K. |
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