Existem pouquíssimos diretores em atividade que são tão
interessantes quanto os irmãos Joel e Ethan Coen. Donos de uma carreira que já
dura mais de trinta anos, a dupla comandou diversas obras primas (como “O
Grande Lebowski” e “Onde os Fracos Não Têm Vez”) e conquistou o respeito tanto
do grande público (com 4 Oscars no currículo) quanto dos cinéfilos mais
exigentes (com diversos prêmios em festivais respeitados como o de Cannes).
E agora com este novo “Ave, César!”, eles provam que ainda são
capazes de surpreender mesmo quando não trazem muita coisa nova.
Ambientado na era de ouro de Hollywood, o filme acompanha o
chefe de estúdio Edward Mannix (Josh Brolin), que no meio das correrias de diversas gravações
descobre que seu principal astro, Baird Whitlock (George Clooney) foi
sequestrado.
Como não poderia deixar de ser, o filme acaba funcionando
como uma homenagem ao cinema de Hollywood da década de 50 (em especial os
musicais e épicos), e, se tratando de um filme dos irmãos Coen, também não
deixa de ser uma divertida sátira com o período, ironizando o medo comunista
americano e brincando com diversos clichês de gêneros (desde as transições de
montagem bregas até o vilão com um animalzinho de estimação – aliás, o nome
escolhido para o animal é simplesmente genial, e pode até passar despercebido
para algumas pessoas), sempre trazendo o senso de humor tão característico da
dupla (que fica claro na piada envolvendo o nome do diretor interpretando por
Ralph Fiennes e – minha preferida – na cena que envolve uma reunião de líderes
religiosos para discutir sobre um roteiro).
Também é interessante como os diretores conseguem achar
espaço para incluírem momentos de alto nível de complexidade estética (outra
marca registrada deles) – como na cena que envolve a personagem de Scarlett
Johansson em uma coreografia de nado sincronizado e outra que traz um número
musical protagonizado por Channing Tatum.
Em relação aos personagens o filme também não deixa a
desejar, principalmente para quem já é fã dos Coen, trazendo diversas figuras
que beiram o caricatural, mas que funcionam muito bem dentro da lógica do filme
e reforçam seu senso de humor (como na subtrama envolvendo a personagem de
Scarlett Johansson e na breve cena protagonizada por Frances McDormand).
Sendo desde já um dos filmes mais interessantes do ano,
“Ave, César!” pode não ser para todo mundo (principalmente para quem não gosta
dos trabalhos dos diretores mais voltados para a comédia exagerada, como
“Queime Depois de Ler” e “E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?”), mas quem aprecia uma
experiência diferente e recheada de sarcasmo com certeza terá um prato cheio.
Muito Bom! |
João Vitor, 25 de Abril de 2016.