Aquarius, novo filme do diretor Kleber Mendonça Filho, é um
filme recheado de momentos de encher os olhos de lágrimas, sejam de satisfação,
melancolia ou felicidade. Com uma trama simples, mas de muita força emocional,
o filme é mais do que uma história de resistência contra um sistema que visa o
lucro acima de tudo, é também uma celebração das pequenas coisas belas que nos
definem como seres humanos.
O roteiro escrito pelo próprio diretor, acompanha Clara
(Sônia Braga), uma jornalista aposentada que luta contra os esforços de uma
construtora que quer comprar seu apartamento para poder demolir o prédio e
construir um centro comercial.
Com uma belíssima fotografia que, sempre cheia de cores
quentes, reforça o sentimento de carinho entre os personagens, e uma trilha
sonora que vai de Queen à Gilberto Gil, o filme se mostra sempre disposto a
celebrar pequenos momentos prosaicos que emocionam por sua beleza e
simplicidade, como o prazer de ouvir uma música querida em alto som, ou um coro
de feliz aniversário em família. Além disso, o filme traz ainda um leve senso
de humor peculiar que serve como um charme discreto e aumenta ainda mais a
doçura da narrativa (e a cena que envolve um envelope em baixo de uma porta,
logo no início, é hilária!).
Mas mesmo com uma trama simples e uma abordagem
apropriadamente mais discreta que em seu filme anterior (o fantástico O Som Ao
Redor), Kleber Mendonça Filho consegue brindar o espectador com uma narrativa
altamente sofisticada, dividida em três partes que, ao invés de simplesmente
quebrar a trama em começo meio e fim, servem para enriquecer o filme
tematicamente (reparem bem nos nomes de cada capítulo).
O elenco é homogeneamente fantástico. Sônia Braga não apenas
protagoniza o filme com segurança como ainda consegue incluir doçura até em
gestos completamente cotidianos, como um cochilo na rede ou uma volta para casa
depois de um passeio na praia. Humberto Carrão, por sua vez, foge completamente
de um vilão caricatural, e consegue convencer como alguém detestável, mesmo que
cordial. Já Maeve Jinkings traz uma bela fragilidade para sua personagem (filha
da protagonista) e ainda comanda, junto com Sônia Braga, a cena mais forte
emocionalmente de todo o filme.
Sendo politicamente consciente,
mas acima de tudo humano, Aquarius é um belíssimo filme que prova mais uma vez
que Kleber Mendonça Filho está entre os melhores diretores de sua geração. E
não deixa de ser curioso ver que em determinado momento do filme alguns
personagens dancem ao som de “Recife, Minha Cidade”, de Reginaldo Rossi, que em
um de seus versos traz a frase “É um pedacinho do Brasil”, pois afinal,
Aquarius também pode ser visto como um retrato do melhor lado da cultura
brasileira, e em um momento político tão conturbado e desesperançoso, um pouco
de afeto é muito bem-vindo.
Ótimo! |
João Vitor, 17 de Setembro de
2017.
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