Não é por acaso que os livros de
Dan Brown são um sucesso. Com tramas interessantes e diversas curiosidades
históricas, as obras ainda se beneficiam por terem uma linguagem acessível e
capítulos curtos (que constantemente terminam em uma pequena reviravolta), proporcionando
assim uma experiência divertida e cativante para qualquer leitor.
Mas também não é a toa que as
adaptações cinematográficas de sua obra fiquem bem abaixo do esperado, já que
necessitam de muitos diálogos expositivos e trazem problemas estruturais óbvios.
E este novo Inferno se mostra o pior título de sua franquia, pois além dos
problemas já presentes nos filmes anteriores, agora até mesmo a trama com
potencial e as belas locações não conseguem disfarçar a fragilidade temática e
estrutural de um filme que simplesmente não justifica sua existência.
Mais uma vez acompanhando o
professor Robert Langdon (Tom Hanks), o filme começa em Florença com o
personagem hospitalizado por conta de um atentado a bala. Logo ele descobre que
um bilionário que recentemente cometeu suicídio estava planejando soltar uma
peste para aniquilar parte da população humana e resolver o problema da
superpopulação. Mais uma vez, o professor irá encarar enigmas e quebra-cabeças
e contará com a ajuda de uma bela e inteligente moça (Felicity Jones).
A estrutura do roteiro (escrito
por David Koepp) incomoda não só pela similaridade com os capítulos anteriores,
mas também – principalmente – por se render ao velho e artificial clichê de
trazer um protagonista com amnésia que vai convenientemente se lembrando de
fatos importantes conforme as necessidades da trama. Isso sem contar que ter
cenas de alucinações a cada minuto durante a primeira meia hora de projeção é
algo completamente aborrecido.
E, além disso, os diálogos
expositivos (um problema mais fácil de contornar no livro, onde você pode ter
um narrador onipresente explicando algo sem parecer muito artificial) são
tantos que o roteiro se vê na obrigação de trazer a personagem de Felicity
Jones dizendo que “perguntas são importantes, pois vão te ajudar a se
recuperar” – em uma tentativa frustrada de justificar um erro imperdoável. E
devo confessar que ri em determinado momento onde Tom Hanks, examinando um
artefato, exclama “Olha só, há um texto!” – literalmente narrando o que estamos
vendo e mostrando que o roteirista realmente não confia nem nos olhos do
espectador.
E vale lembrar que aponto esses
problemas não por um preciosismo técnico, mas sim porque eles prejudicam a
própria relação entre os personagens, que por nunca terem uma conversa
minimamente convencional um com o outro, acabam parecendo robôs que só existem
para fazer a história ir para frente (reparem como a inteligência acima do
comum da personagem de Felicity Jones não desempenha papel algum na trama) – e
isso prejudica tematicamente o filme, e também fragiliza sua principal
reviravolta – que (sem spoilers) posso dizer que depende essencialmente da
humanidade de um certo personagem para realmente convencer.
E justamente por sacrificar seus
personagens em prol de uma narrativa cheia de ação e informações, o talentoso
elenco fica completamente debilitado – já que, como disse antes, os personagens
nada mais são do que instrumentos para a ação continuar. Sendo assim, basta aos
atores dizerem suas falas naturalmente que já cumprem seus papéis, uma vez que
não podem criar figuras humanas ali. Algo que se torna ainda mais lamentável
quando você tem um elenco recheado de talentos como Tom Hanks, Felicity Jones,
Omar Sy, Ben Foster e Irrfan Khan.
Já a direção do experiente e – na
maioria dos casos – eficiente Ron Howard é mais uma vez “certinha” e sem
personalidade. Abusando de câmeras subjetivas, imagens desfocadas para sugerir
tontura, cortes rápidos e câmera tremida em cenas de ação, músicas aceleradas,
batidas de coração para gerar suspense, tudo aqui é correto do ponto de vista
formal, mas nada é tão eficiente quanto poderia. Além disso, ver sequências de
ação ininterruptas filmadas no “automático” durante duas horas não é algo muito
empolgante, e acaba deixando o filme bem mais cansativo do que o necessário.
Errando ainda por apresentar uma
personagem importante apenas em seu terceiro ato, Inferno é um filme tematicamente raso que não explora o potencial
de sua premissa, além de ter um roteiro completamente problemático em todos
seus aspectos e que mostra que um livro divertido não necessariamente vai dar
origem a um bom filme.
Regular |
João Vitor, 17 de Outubro de
2016.
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