A Teoria de Tudo
Agradável e cuidadoso
É
difícil não gostar de A Teoria de Tudo: trata-se de um filme com uma história
tocante, ótimas atuações e um visual colorido quase fabulesco. Mas nada disso é à toa, tampouco feito apenas para agradar o público, já que o diretor James
Marsh e sua equipe mostram um imenso cuidado em pequenos detalhes do filme, que
acabam por transformar a obra não apenas em uma experiência emocionante, como
também em um fascinante estudo cinematográfico.
Baseado
da biografia de Stephen Hawking, o filme retrata uma grande parte da vida do
astrofísico (interpretado por Eddie Redmayne), e suas importantes descobertas
sobre o tempo, além de sua doença motora degenerativa e seu romance com Jane
Wide (Felicity Jones).
O
roteiro escrito pelo estreante Anthony McCarten é extremamente feliz ao construir
uma história de amor que seja tocante sem ter que apelar para o melodrama. Da
mesma forma, é outro acerto que o brilhantismo de Stephen Hawking seja sempre
retratado de maneira plausível, pois por mais que possamos não entender sua lógica,
ao menos percebemos seus esforços para chegar às suas conclusões, e isso faz com
que o personagem soe real ao invés de um gênio sobrenatural inigualável, um
erro que é muito comum em cinebiografias.
Outra
coisa muito competente é a trilha sonora de Jóhan Jóhannsson (também
responsável pela música do excepcional Os Suspeitos, de 2013), que, com linhas
de piano excepcionais, consegue retratar desde o deslumbramento do personagem
para com sua família até suas crescentes dificuldades nas atividades diárias.
(Obs:
Todas as músicas do filme podem ser ouvidas aqui).
As
atuações também estão impecáveis: Felicity Jones retrata Jane de uma maneira
segura, convencendo como ponto de apoio e inspiração para o protagonista, e
Eddie Redmayne, em uma performance física excelente que deve lhe valer uma
indicação ao Oscar, vive Stephen Hawking em uma entrega completa, sendo
extremamente competente ao demonstrar de maneira sutil e lenta o avanço da
doença sobre o personagem, assim como a sua insegurança e preocupação com a
esposa e os filhos.
O
filme só erra mesmo ao se estender mais do que o necessário nos seus 40 minutos
finais (que poderiam ter sido reduzidos, sem problema algum, para uns 20), o
que acaba cansando o espectador, principalmente levando em consideração que essa
é a parte mais densa e pesada da história, e por mais que seja um trecho
necessário por se tratar de um importante período da vida do protagonista,
acaba destoando demais com o restante da projeção, que é mais otimista e
lúdica.
Truques
de Direção e Jogo de Cores:
Mas
o que mais chama a atenção em “A Teoria de Tudo” é, sem duvidas, o seu jogo de
cores e seus truques de direção. James Marsh usa, em diversos pontos da
narrativa, pequenos detalhes que às vezes até passam despercebidos para boa
parte do público, mas que acabam por incrementar e enriquecer a obra
cinematograficamente.
(As imagens podem ser ampliadas com um clique).
O
primeiro detalhe que me chamou a atenção acontece bem no momento em que Stephen
desaba durante uma caminhada, logo antes de receber a notícia da doença, quando
o diretor corta para um plano mais aberto e enquadra o personagem caído entre
uma janela em forma de cruz, dando uma ideia do aprisionamento ao qual ele irá
ser submetido a partir daí e remetendo até mesmo à uma lapide de cemitério.
Essa
mesma lógica é usada quando vemos Stephen tomar banho logo depois, enquanto
está “digerindo” a notícia da doença e de sua provável morte, quando James
Marsh o filma de costas, mal dando para ver sua cabeça abaixada, enchendo ainda
o cômodo de vapor, dando à imagem um visual de pesadelo.
É
interessante reparar também que quando Stephen recebe a notícia de sua doença,
ele está sentado em um banco do hospital com a câmera o mostrando relativamente
grande no quadro, mas enquanto ele vai processando o peso do que acabou de
ouvir, a câmera vai gradualmente se afastando, deixando-o cada vez menor para
representar a sua impotência diante da situação.
Outro
detalhe muito bem usado por Marsh é quando vemos Jane indo se encontrar pela
primeira vez com Stephen depois da notícia da doença, onde o diretor utiliza um plano contra plongé (de baixo para
cima) mostrando a personagem subindo uma escada em espiral, criando assim uma
imagem quase de ilusão, e dando uma ideia da dificuldade que ela irá enfrentar
a partir daquele momento.
O
jogo de cores do filme também é extremamente bem feito e cuidadoso. Reparem
como em todas as cenas em que Stephen e Jane se encontram, o quadro está sempre
cheio de cores vivas, chegando até a acontecer uma queima de fogos sobre os
dois.
Já
quando Stephen recebe a notícia de sua doença e tenta se isolar de sua
parceira, James Marsh nos mostra o personagem cabisbaixo e mergulhado em luz
vermelha (representando o sentimento de estar no inferno vivido pelo
protagonista), e quando Jane aparece no quadro, a vemos pequena e sob uma luz
branca (representando a esperança que ela irá trazer agora à vida de Stephen).
Seguindo
a mesma lógica, em uma cena em que vemos o casal se divertindo, o quadro está
todo cheio de cores vivas, mas quando, logo em seguida, Stephen decide parar
com isso e se isolar em seu quarto, se entregando à própria tristeza, a câmera
vai seguindo-o e as cores vão desaparecendo, até chegarmos ao quarto e nos
depararmos com o aposento cheio de sombras.
Já
quando acompanhamos a família do casal crescendo, e vemos o protagonista, cada
vez mais limitado fisicamente, brincando com seus filhos, as imagens são sempre
coloridas, cheias de cores como verde e amarelo. Mas quando o casal está em
crise e passando por dificuldades, as cores somem quase que por completo, dando
espaço à uma paleta completamente insaturada, enquanto as imagens ao fundo do
quadro aparecem completamente fora de foco, quase distorcidas.
Sendo,
desde já, um forte candidato a pelo menos algumas indicações ao Oscar, A Teoria
de Tudo é mais do que um filme “certinho” que agrada pela sua história, é um
trabalho cuidadoso de uma equipe que se preocupa em fazer uma obra de qualidade
e brindar o espectador com fascinantes lógicas cinematográficas. E filmes assim
são sempre bem-vindos.
Ótimo! |
João Vitor, 12 de Janeiro de 2015.
Muito bom! Realmente esses pequenos detalhes passam despercebidos aos olhos do público,A Teoria de Tudo é um filme excelente,muito bem produzido e com uma trilha perfeitamente harmoniosa e bem composta,parabéns pelo seu blog e pelo canal no YouTube,onde tive a oportunidade de ouvir a trilhar sonora do filme.Muito bom,eu recomendo!
ResponderExcluirDon't die before I do, please
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