Pecados
Íntimos é um ótimo filme. Não tanto por ser original ou por trazer uma direção
particularmente memorável, mas sim pelo simples fato de que o roteiro reconhece
e se apoia em sua melhor qualidade: seus personagens.
Sarah Pierce (Kate Winslet) é casada com Richard (Gregg
Edelman), com quem tem uma filha. Um dia, ela conhece Brad Adamson (Patrick
Wilson), que é casado e tem um filho com Kathy (Jennifer Connelly). É o início
de uma amizade entre eles, que envolve um homem frustrado por estar
desempregado e uma mulher infeliz com seu casamento e sua própria vida. Logo
esta amizade torna-se um caso extraconjugal.
Como dá para perceber, não se trata das mais originais ou
promissoras premissas, mas o roteiro escrito por Todd Field e Tom Perrotta é
inteligente o suficiente para reconhecer isso e compensar desenvolvendo com
cuidado os vários e complexos personagens.
Sarah é estabelecida como o centro do filme, sendo uma mulher
infeliz que finalmente encontra algo novo em sua vida ao se relacionar com
Richard, que por sua vez também é profundamente infeliz e imaturo, mesmo que
relativamente bem sucedido (ele está desempregado, mas é formado em Direito, e
sua esposa trabalha como documentarista). Ainda temos também o personagem Ronnie
(Jackie Earle Haley), que é um pedófilo que acabou de sair da cadeia e retorna
para a casa, mas se vê incapaz de reconstruir sua vida.
Todas essas dores e frustrações são trabalhadas pelo roteiro
com cuidado, nunca caindo no melodrama ou na artificialidade. A narração em off também é muito bem aproveitada
(coisa rara), ainda que o monólogo final seja descartável.
Talvez o único erro por parte do roteiro seja a relação de Sarah (Kate Winslet) e seu marido, que, ao contrario
do que acontece com o outro casal da trama (Patrick Wilson e Jennifer Connelly), é mal
desenvolvida, e em certo momento o filme chega até a jogar um interessante
conflito sobre eles, mas apenas para esquecê-lo logo depois.
A direção de Todd Field (que desde 2006, quando este
filme foi lançado, não dirigiu mais nada) é segura e consegue criar momentos
marcantes (destaque para o plano-sequência envolvendo uma piscina, que ilustra
a passagem do tempo de maneira orgânica e original).
As atuações também são ótimas, Kate Winslet consegue conferir
sensibilidade a uma personagem que nas mãos de outras atrizes poderia soar
antipática, mas a maior surpresa do elenco está em Jackie Earle Haley, um ator
pouco reconhecido apesar da carreira extensa, e que compõe aquele que é
provavelmente o personagem mais complexo da narrativa.
Encerrando
com um desfecho satisfatório, mas que não deixa de soar um pouco decepcionante
tendo em vista toda a preparação criada pelo próprio roteiro, Pecados Íntimos é
um filme singular, interessante, recheado de personagens complexos e
imperfeitos, que não conseguem superar suas próprias imaturidades. É uma pena
que o sentido do título original (Little Children – Criancinha) tenha se
perdido na tradução, pois de certa forma reflete muito da essência daqueles
indivíduos.
Muito Bom! |
João Vitor, 9 de Outubro de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário