sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Crítica: Pecados Íntimos, de Todd Field

Pecados Íntimos é um ótimo filme. Não tanto por ser original ou por trazer uma direção particularmente memorável, mas sim pelo simples fato de que o roteiro reconhece e se apoia em sua melhor qualidade: seus personagens.


Sarah Pierce (Kate Winslet) é casada com Richard (Gregg Edelman), com quem tem uma filha. Um dia, ela conhece Brad Adamson (Patrick Wilson), que é casado e tem um filho com Kathy (Jennifer Connelly). É o início de uma amizade entre eles, que envolve um homem frustrado por estar desempregado e uma mulher infeliz com seu casamento e sua própria vida. Logo esta amizade torna-se um caso extraconjugal.


Como dá para perceber, não se trata das mais originais ou promissoras premissas, mas o roteiro escrito por Todd Field e Tom Perrotta é inteligente o suficiente para reconhecer isso e compensar desenvolvendo com cuidado os vários e complexos personagens.


Sarah é estabelecida como o centro do filme, sendo uma mulher infeliz que finalmente encontra algo novo em sua vida ao se relacionar com Richard, que por sua vez também é profundamente infeliz e imaturo, mesmo que relativamente bem sucedido (ele está desempregado, mas é formado em Direito, e sua esposa trabalha como documentarista). Ainda temos também o personagem Ronnie (Jackie Earle Haley), que é um pedófilo que acabou de sair da cadeia e retorna para a casa, mas se vê incapaz de reconstruir sua vida.


Todas essas dores e frustrações são trabalhadas pelo roteiro com cuidado, nunca caindo no melodrama ou na artificialidade. A narração em off também é muito bem aproveitada (coisa rara), ainda que o monólogo final seja descartável.


Talvez o único erro por parte do roteiro seja a relação de Sarah (Kate Winslet) e seu marido, que, ao contrario do que acontece com o outro casal da trama (Patrick Wilson e Jennifer Connelly), é mal desenvolvida, e em certo momento o filme chega até a jogar um interessante conflito sobre eles, mas apenas para esquecê-lo logo depois.

A direção de Todd Field (que desde 2006, quando este filme foi lançado, não dirigiu mais nada) é segura e consegue criar momentos marcantes (destaque para o plano-sequência envolvendo uma piscina, que ilustra a passagem do tempo de maneira orgânica e original).


As atuações também são ótimas, Kate Winslet consegue conferir sensibilidade a uma personagem que nas mãos de outras atrizes poderia soar antipática, mas a maior surpresa do elenco está em Jackie Earle Haley, um ator pouco reconhecido apesar da carreira extensa, e que compõe aquele que é provavelmente o personagem mais complexo da narrativa.


Encerrando com um desfecho satisfatório, mas que não deixa de soar um pouco decepcionante tendo em vista toda a preparação criada pelo próprio roteiro, Pecados Íntimos é um filme singular, interessante, recheado de personagens complexos e imperfeitos, que não conseguem superar suas próprias imaturidades. É uma pena que o sentido do título original (Little Children – Criancinha) tenha se perdido na tradução, pois de certa forma reflete muito da essência daqueles indivíduos.  

Muito Bom!

João Vitor, 9 de Outubro de 2015

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