Quarteto Fantástico
Uma leve defesa para o filme mais criticado do ano
O texto a seguir foi inicialmente planejado para ser um
breve comentário para o site filmow, mas acabou se estendendo em uma análise
mais completa e decidi publicá-lo aqui.
Realmente, o filme é bem fraco, mas na minha opinião, também
está longe de ser esse desastre todo que estão falando. Fiquei com a impressão
de que com a má recepção da crítica, muita gente já foi pro cinema esperando
ver um filme ruim, e como o primeiro ato é um desastre, é fácil desistir e
dizer que o filme é todo um lixo, o que não é verdade.
O primeiro ato, como eu já disse, é um desastre: recheado de
clichês (poucas coisas são mais ultrapassadas que o jovem menino gênio, que
sofre bullying na escola e constrói uma incrível máquina na garagem de casa) e
diálogos pavorosos, que não consegue criar nem um momento sequer um pouco
engraçado.
Já o segundo ato é muito interessante, mesmo. A dinâmica
entre os personagens (muito em função do talento dos atores) funciona, o filme
consegue criar momentos cômicos leves e orgânicos, e a ação é interessante
(destaque para a cena em que os personagens viajam para a outra dimensão, logo
antes de ganharem seus poderes). É claro que ainda tem algumas falhas (a cena
que traz os personagens discutindo a possibilidade de usarem a máquina
escondidos é particularmente falha), mas ainda assim, como um todo, funciona.
Ah, sim, e tem uma referência ao Borat - como não gostar?
Finalmente, temos o terceiro ato, que foi disparado a parte
mais criticada por todos. Particularmente, o achei bem falho, mas não acho que
seja um desastre completo. As cenas de ação não têm nada de mais, mas também
não são vergonhosas. O vilão também tem prós e contras: suas motivações não são
absurdas (um jovem que não é ninguém em sua vida e de repente pode ser o rei de
um mundo não é uma premissa ruim), mas o problema é que elas soam muito
radicais, pois sua transformação é feita muito rápido (um problema que atingia
também o personagem de Jamie Foxx no subestimado “O Espetacular Homem Aranha 2:A Ameaça de Electro”, do ano passado).
Mas o que realmente prejudica este terceiro ato, e acabou
comprometendo a experiência para muita gente, é que é nele que todas as
fragilidades da estrutura do filme se expõem.
Soa extremamente tolo o fato de o Victor Von Doom sumir no
começo, passar metade do filme sem aparecer ou influenciar nada, e de repete
surgir como o grande antagonista dos heróis. Outra coisa que prejudica é o fato
do clímax não ter preparação nenhuma: o filme está vindo em um determinado
ritmo, e se saindo muito bem, e de repente, um minuto depois, os personagens já
estão se enfrentando na batalha final.
Mas, sejamos honestos, o visual do Dr. Destino merece
créditos, pois não apenas é interessante como também é coerente dentro da lógica
estética do filme, sem parecer cartunesca ou exagerada. Além disso, o
personagem tem uma presença intimidadora muito forte (destaque para o momento
em ele se levanta, logo após se revelar como o vilão, e a câmera acompanha o
seu caminhar em um plano contra-plongée – momento este que me causou mais
impacto do que qualquer um presente em “Homem-Formiga”, por exemplo).
Sendo extremamente irregular, mas não um desastre completo,
este novo “Quarteto Fantástico” é uma nota desafinada em um ano em que as
grandes produções hollywoodianas vêm se mostrando surpreendentemente coesas e
competentes (Mad Max, Jurassic World, Divertida Mente e Missão Impossível vem à
mente), mas é também um filme injustamente detonado por quem entra na sala de
cinema com pré-conceitos já construídos e se cega para suas eventuais virtudes.
O.K. |
João Vitor, 13 de Outubro de 2015.
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