Remakes
americanos de filmes estrangeiros costumam ser desnecessários (“Oldboy”,
“Vanilla Sky” e o recente “Olhos da Justiça” servem de exemplos), e isso se
deve ao fato do remake quase sempre ser pensado visando o sucesso comercial,
fazendo com que sutilezas do original se percam no medo da censura e na
necessidade de “mastigar” cada detalhe para ninguém sair da sala de cinema sem
entender algo.
Sabendo
disso, e tendo em vista que o sueco “Deixa Ela Entrar” (Tomas Alfredson, 2008)
se diferenciava pela sua sutileza e pela sua visão madura sobre
pré-adolescentes, é de se temer que seu remake americano acabasse deixando de
lado sutilezas para se vender ao público jovem (que certamente seria atraído
pela idade dos atores), ou então acabasse indo para o lado sombrio da obra,
fazendo um filme de terror mais gráfico e assustador (afinal, trata-se de uma
história com vampiro).
Felizmente,
o que acontece neste “Deixe-me Entrar” (Matt Reeves, 2010) não é nenhuma das
opções acima, pois o diretor (que já havia feito o incrivelmente competente
“Cloverfield”, e que recentemente fez o excelente “Planeta dos Macacos: O
Confronto”) compreende que a força da obra está nos conflitos de seus
personagens, e que muito antes de ser um Terror, o filme é um Drama, e assim
cria uma obra diferenciada que é fiel ao original, mas traz suficientes
elementos próprios para não parecer completamente desnecessária.
A
trama segue o jovem de 12 anos, Owen (Kodi Smit-McPhee), que sofre bullying no
colégio e é praticamente ignorado pelos pais que acabaram de se divorciar, mas
encontra uma peculiar amizade em Abby (Chloë Grace Moretz), uma estranha jovem
que se muda em seu prédio.
Ao
contrário do que possa parecer com a sinopse, o filme está longe de ser um
romance. O que Matt Reeves faz é criar uma atmosfera intimista absolutamente
melancólica, mergulhando o espectador nas tristezas e anseios que assolam o
protagonista, e trazendo um “interesse amoroso” não como uma luz para trazer
felicidade à sua vida, mas como apenas um leve conforto para escapar de sua
realidade, mas que com certeza resultará em sofrimento (coisa que o filme em momento
algum parece negar).
Mas
deve-se admitir que falta ao filme algumas sutilezas, principalmente se
compararmos com a versão sueca. Por exemplo, a relação da Abby com o homem
mais velho que se passa por seu pai é muito mais fascinante no original,
justamente por ser sutil e deixar o espectador pensar por si só e descobrir a
origem do relacionamento entre eles. Já no remake, não só a relação é menos
interessante, como também o roteiro faz questão de escancarar tudo o que o
espectador poderia descobrir sozinho, ao incluir uma cena descartável que
envolve o protagonista descobrindo uma certa foto antiga.
Os
efeitos visuais em excesso também são um leve problema, pois acabam deixando
algumas cenas mais artificiais do que o necessário (não vou comentar mais para
evitar spoilers), mas é interessante também notar como até isso acaba ficando
no segundo plano, já que muito mais do que a ação em si, o que importa é o que
ela representa para os personagens (leve spoiler a seguir: a cena que traz Abby
atacando uma personagem por pura necessidade desesperada é particularmente
memorável).
Já
o famoso momento da piscina, que representa o clímax da narrativa, também acaba
se mostrando decepcionante, pois Reeves, compreensivelmente tentando fugir da
imitação do original, acaba criando uma cena que começa sensacional, mas que
termina de maneira rápida demais e perde toda a “beleza” (você entenderá as
aspas quando vir o filme) que tanto diferenciava a obra sueca.
Mas
mesmo com seus problemas, “Deixe-me Entrar” é um filme diferenciado, e por mais
que não supere o original (nem chegue a ser tão bom quanto), pelo menos sabe
que tipo de história quer contar, e acima de tudo, compreende que a força de
sua trama não está no assustador ou no romântico, mas sim no drama melancólico
de seus personagens.
Bom. |
João
Vitor, 19 de Dezembro de 2015.
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