quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Crítica: The Lobster, de Yorgos Lanthimos

O grego Yorgos Lanthimos conseguiu entrar para minha lista de diretores favoritos após eu assistir apenas um filme seu: Dente Canino (2009). Isso porque mais do que um filme ótimo, se tratava de uma obra que partia de uma premissa incrivelmente esquisita (uma família que decide criar seus filhos completamente isolados do mundo, com hábitos no mínimo estranhos) e conseguia extrair humor das situações mais absurdas, trazendo ainda momentos extremamente incômodos e inesquecíveis, sendo uma das experiências cinematográficas mais atípicas que eu já tive.


E agora, com este seu novo “The Lobster” (vencedor do Prêmio do Júri em Cannes este ano), o cineasta mostra que seu outro trabalho não havia sido um mero golpe de sorte, e consegue criar mais um filme completamente único e original (desta vez partindo de uma premissa ainda mais absurda), e de novo demonstrando uma facilidade para extrair graça das situações mais improváveis (muitas vezes até envolvendo violências extremas).


A sinopse é basicamente a seguinte: David (Colin Farrel) é um homem que acabou de ser trocado pela esposa e vai se hospedar em um hotel. O que não seria nada de mais se ele não vivesse em um futuro distópico onde é proibido ficar solteiro, sendo que qualquer um que não tiver um parceiro é enviado a este hotel, onde tem 45 dias para mudar a situação, se não conseguir, a pessoa é transformada em um animal de sua preferência (???) e solta na floresta.

O primeiro destaque do filme fica por conta do elenco. Como no universo da trama as relações são mecânicas e desprovidas de sentimentos, os atores têm que conseguir dizer suas falas sem demostrar emoção alguma, mas ao mesmo tempo passar o timing cômico que o diretor almeja, e fazer com que o espectador consiga desvendar um pouco mais do que se passa em suas mentes. E o resultado é surpreendentemente eficaz.


Colin Farrell protagoniza o filme com uma segurança invejável, conseguindo intrigar o espectador (nunca entendemos completamente quais são seus reais objetivos e sentimentos) ao mesmo tempo em que traz um timing cômico invejável, sendo capaz de gerar o riso na plateia apenas através de sua expressão deslocada.

John C. Riley também merece destaque. Apesar de ter um papel relativamente pequeno, o ator também demostra uma incrível facilidade para gerar riso, não pelo exagero, mas sim pela simples naturalidade com que ele age diante de situações absurdas.

Empregando uma narração em off que serve para dar um tom mais fabulesco à narrativa (e de certa forma também aumentando o potencial cômico de algumas sequências), o roteirista Efthymis Filippou (que já havia trabalho com o diretor em “Dente Canino”) utiliza a premissa absurda não apenas para gerar risadas, como também para comentar de maneira irônica a superficialidade das relações humanas (desde a necessidade cega de arrumar um parceiro até a incapacidade de sentir empatia), mas sem nunca tentar soar mais inteligente ou profundo do que realmente é.

Mas o que realmente diferencia o filme é seu senso de humor, que por mais que não seja para todo mundo (muitos com certeza terminarão a projeção achando-o de mau gosto), consegue gerar gargalhadas genuínas através das situações mais improváveis (destaco dois momentos: um envolvendo uma apresentação teatral no hotel, que tem como objetivo ilustrar a importância de se ter um parceiro, e outra envolvendo um chute na canela de uma criança).

Diferente, interessante, engraçado, irônico, repulsivo, sádico, original... Adjetivos não faltam para definir este filme, mas particularmente acho que dá para resumir em apenas um: genial.

Ótimo!

João Vitor, 22 de Dezembro de 2015.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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