Particularmente, acho que uma das maiores surpresas do
cinema americano nos últimos anos foi o filme “Fruitvale Station” (2013),
dirigido por Ryan Coogler, que se tratava de uma experiência inesquecível e com
uma direção impecável, que construía uma narrativa intensa e de uma incrível força
dramática. Sendo assim, é óbvio que me animei ao saber que o mesmo diretor iria
comandar a nova sequência da série Rocky, principalmente por trazer mais uma
vez para o papel principal o talentosíssimo Michael B. Jordan. E felizmente
posso dizer que eles não me decepcionaram.
O roteiro acompanha o personagem Adonis Johnson (Michael B.
Jordan), filho ilegítimo do ilustre lutador Apollo Creed. Mesmo sem nunca ter
conhecido seu pai, Adonis é apaixonado por boxe, e depois de largar tudo, vai
atrás de tentar convencer Rocky Balboa (Sylvester Stallone) a treiná-lo.
Já de cara, é interessante notar como o senso de humor do
filme é afinado. Mesmo sem parecer que está tentando fazer graça, o diretor e
roteirista Ryan Coogler faz com que em diversos momentos o riso venha ao
espectador de maneira natural e orgânica, sem nunca tirar o foco da trama.
Gosto particularmente de quando ele afasta a câmera de dois personagens se
beijando para focar em uma tartaruga observando tudo de seu aquário.
Mas talvez o maior mérito do senso de humor do filme seja de
Michael B. Jordan. Ator de quem gosto cada vez mais, ele aqui oferece uma de
suas melhores performances, conseguindo equilibrar muito bem o peso dramático
que seu personagem carrega e o seu senso de humor, e mais uma vez, sem parecer
que está fazendo graça, fazendo com que o riso surja espontaneamente.
Ainda assim, a atuação que mais chama a atenção, e não por
acaso vem acumulando cada vez mais prêmios, é a de Sylvester Stallone como
Rocky. Mesmo já tendo feito o mesmo personagem outras seis vezes, Stallone foge
completamente do “piloto automático”, e impressiona pela sutileza, sendo o
maior responsável pela força dramática do filme – e a cena que o traz sentado
conversando casualmente com o túmulo da esposa, e quando ele fala com um médico
sobre o câncer que a tirou a vida, são dois dos melhores momentos da obra.
Mas não é só pelas atuações que o filme se diferencia. O
maior responsável pelo sucesso da obra é mais uma vez o diretor Ryan Coogler –
e agora acho que posso dizer sem reservas que ele foi uma das melhores coisas a
acontecer no cinema americano nos últimos anos. Mais uma vez apostando em uma
abordagem com uma cara de cinema independente (embora mais contido do que em “Fruitvale
Station”), Coogler cria uma narrativa intensa, que constantemente acompanha as
costas dos personagens em longos planos sequência, e acerta em filmar as lutas
com a câmera próxima aos rostos dos personagens. E é particularmente marcante o
longo plano sequência que acompanha Adonis em sua primeira luta após o
treinamento com Rocky, onde a falta de cortes cria uma tensão crescente e faz
com que o espectador respire aliviado ao fim do combate (na verdade, assim como
acontecia em “Birdman”, há ali alguns cortes escondidos no meio da sequência,
mas isso não importa, pois o que vale é a ilusão da continuidade – que é o que
cria a tensão e o desconforto).
Não poderia deixar de falar também sobre a trilha sonora,
que faz um trabalho impecável, principalmente ao brincar com as expectativas do
espectador quanto ao tema original e clássico da série (“escondendo” aqui e ali
algumas notas da famosa música).
Mas apesar de todas as qualidades, não tem como dizer que o
filme é perfeito, e o principal motivo disso é o roteiro. Escrito pelo diretor
Ryan Coogler (que é bem melhor na direção do que na escrita), o texto está
longe de ser ruim, mas tem diversas falhas que impedem o filme de alcançar a
excelência.
Primeiro, é longo demais. Em determinado momento do filme há
um acontecimento importante (que não revelarei, mas você com certeza
reconhecerá quando ver) que dá uma nova perspectiva – interessante e bem vinda
– para a narrativa, mas o problema é que Coogler gasta tempo demais nessa quase
que sub trama, deixando o foco principal de lado, e fazendo com que o ritmo
fique um pouco mais arrastado do que deveria. Vale dizer também que o “vilão”
do filme deixa um pouco a desejar, sendo até um pouco caricato, e só
funcionando porque o protagonista é muito forte.
Além disso, o clímax da narrativa é um compilado de todos os
clichês possíveis de filme de boxe, e o único motivo pelo qual ele funciona
(muito bem, diga-se de passagem) é porque os personagens foram construídos de
maneira interessante e, principalmente, porque Ryan Coogler dirige com
maestria, criando uma sequência de tirar o fôlego, e que faz o espectador
deixar de lado todos os clichês do texto.
Sendo um trabalho muito acima da média e memorável, “Creed”
surpreende a todo o momento, seja pela sua força dramática ou pelas sequências
mais enérgicas, e mais do que tudo, representa mais um passo deste que vem se
tornando um dos nomes mais interessantes do cenário cinematográfico americano
atual.
Muito Bom! |
João Vitor, 19 de Janeiro de 2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
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