Animais Noturnos é um filme memorável e intenso, e que além de ser
uma experiência narrativa complexa e envolvente, funciona incrivelmente bem
graças aos seus personagens complexos e humanos.
A trama se inicia com a
personagem Suzan (Amy Adams) recebendo um manuscrito de um livro de suspense de
seu ex-marido. A partir daí o filme acompanha três tempos diferentes: a
personagem lendo o livro e sua relação distante com o atual marido, flashbacks
que mostram sua relação com seu antigo esposo (autor do livro), e a história
encenada do livro em si enquanto a personagem o lê.
Como o esperado, a montagem do
filme se mostra fascinante, já que acompanha de maneira ágil e dinâmica três
tempos diferentes sem nunca parecer confusa ou irregular. Além disso, é
interessante com os cortes de um tempo para outro muitas vezes incluem rimas
visuais, como ao trazer um personagem dentro do livro tomando banho e cortar
para um momento em que a personagem que está lendo também está no banho. E também
é interessante como o filme em alguns momentos traz a protagonista como reflexo
do próprio espectador: após acompanharmos uma cena muito intensa (que se passa
no livro dentro do filme), a montagem corta para a personagem que está lendo
reagindo ofegante e abalada – exatamente da mesma forma que o espectador.
Mas apesar da estrutura narrativa
complexa, o que realmente importa no filme são seus personagens, e é
interessantíssimo notar, conforme a narrativa avança, que a trama do livro
reflete de alguma forma o próprio relacionamento entre a protagonista e seu
ex-marido que escreveu a história – o que reforça um dos temas do filme que é o
papel e o poder da arte.
Mas a parte técnica também não
fica para trás, já que a fotografia é eficiente em diferenciar os diferentes
núcleos narrativos: a “vida real” é fotografada com cores frias e sem vida,
enquanto a trama do livro é cheia de cores quentes, remetendo quase a um western com pitadas noir. E também é interessante notar como a personagem principal
utiliza sua forte maquiagem como um escudo para se esconder de sua vida, com a
qual está insatisfeita (em certo momento ela diz: “Você já teve a impressão de
que sua vida tomou um rumo que você jamais planejou?”): dessa forma, nos
flashbacks que mostram sua vida com o ex-marido (um período esperançoso para
ambos) ela surge com o cabelo mais natural e quase nenhuma maquiagem, já as
cenas no presente, onde ela está insatisfeita, surge sempre com uma pintura
fortíssima, e demonstra alívio ao retira-la depois de um dia estressante.
Outro ponto fortíssimo do filme é
o seu elenco. Amy Adams (em seu segundo papel memorável somente neste ano) faz
um excelente trabalho em diferenciar os dois momentos distintos de sua
personagem, contrastando toda melancolia e desilusão no presente com a esperança
nos flashbacks. Já Jake Gyllenhaal (outro que vem construindo uma carreira cada
vez mais admirável) surpreende pela intensidade e equilibra muito bem a
vergonha e a raiva de seu personagem sem precisar apelar para um overacting.
E enquanto Isla Fisher e Michael
Sheen conseguem ser marcantes mesmo com papéis pequenos, Aaron Taylor-Johnson
surge detestável e completamente diferente de tudo que já fez em sua carreira.
E Michael Shannon rouba a cena como sempre, com um típico coadjuvante que
mereceria um filme próprio.
Trazendo ainda várias sequências
intensas e marcantes (uma que se passa em uma estrada de madrugada está entre
as melhores coisas que vi este ano), Animais
Noturnos é um filmaço que além de funcionar como entretenimento e exercício
narrativo, traz personagens complexos que ficam com o espectador mesmo depois
dos créditos finais.
Ótimo! |
João Vitor, 29 de Dezembro de
2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
Desfruto muito deste gênero de filmes, sempre me chamam a atenção pela historia. O personagem de Michael Shannon é o melhor, ele fez um ótimo trabalho. Eu vi que seu próximo projeto, Fahrenheit 451 o filme será lançado em breve. Acho que será ótimo! Adoro ler livros, cada um é diferente na narrativa e nos personagens, é bom que cada vez mais diretores e atores se aventurem a realizar filmes baseados em livros. Acho que Fahrenheit 451 sera excelente! Se tornou em uma das minhas histórias preferidas desde que li o livro, quando soube que seria adaptado a um filme, fiquei na dúvida se eu a desfrutaria tanto como na versão impressa. Acabo de ver o trailer da adaptação do livro, na verdade parece muito boa, li o livro faz um tempo, mas acho que terei que ler novamente, para não perder nenhum detalhe. Sera um dos melhores filmes de ficção cientifica, acho que é uma boa idéia fazer este tipo de adaptações cinematográficas.
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