Logo na primeira cena de Até o Último Homem vemos uma violência
extrema, com uma narração em off de
caráter religioso e uma música heroica tocando ao fundo – já é o suficiente
para que, em poucos segundos, possamos perceber que se trata de um filme de Mel
Gibson, conhecido justamente por gostar de histórias violentas que trazem seu
protagonista como um grande herói, disposto a tudo para fazer o que é certo. E
a maior virtude deste seu novo filme é justamente o fato de ser uma história
(real, diga-se de passagem) nas mãos do diretor certo, que a conta com uma
vontade pulsante, e que mesmo com alguns problemas, oferece uma experiência
intensa e marcante.
O roteiro é escrito por Robert
Schenkkan e Andrew Knight e conta a história real de Desmond T. Doss, que
durante a segunda guerra se alistou no exército, mas se recusava a pegar em
armas por convicções religiosas. Porém isso não o impediu de participar da Batalha
de Okinawa, e, com seus conhecimentos médicos, salvar mais de 75 soldados
americanos, sendo condecorado depois com a Medalha de Honra.
O filme tem uma estrutura atípica
de dois atos: o primeiro segue o protagonista em sua vida no interior da
Virgínia, mostrando seu relacionamento com o pai abusivo, que é veterano da
Primeira Guerra, e seu casamento com uma jovem enfermeira. Já o segundo o
acompanha no exército, tanto em seu treinamento quanto suas ações no campo de
batalha.
Os dois atos propositadamente se
contrastam muito: enquanto o primeiro é cheio de inocência, com uma fotografia
iluminada (que chega até a trazer janelas com luzes brancas estourando) e com
direito até a “beijo entre as nuvens” (você entenderá quando vir o filme), o
segundo é brutal, estourando a ação de uma hora para a outra, com uma violência
extrema, com cadáveres cheios de larvas, membros destroçados, tripas
explodindo, e por aí vai...
Na parte técnica o filme é
excelente: enquanto a tensão “pré-combate” é evocada com eficiência pela trilha
sonora, com sons graves e sombrios, a ação apropriadamente se inicia de forma
abrupta (afinal, deve ser assim que acontece em batalhas reais) – o que reforça
o impacto da violência que cerca o personagem principal. E o trabalho de som é
digno de aplausos pelo número de ruídos diferentes que consegue incluir nas
batalhas sem nunca parecer confuso (no meio de tiros, explosões e gritos tem
até lança-chamas!).
Já o roteiro tem seus altos e
baixos: por um lado, faz um ótimo trabalho ao mostrar como a guerra prejudica
irreversivelmente o psicológico de uma pessoa (o “queria que você o tivesse
conhecido antes da guerra” que a mãe do protagonista diz se referindo ao seu
marido é bastante doído), por outro suas tentativas de humor falham
completamente (como na inexplicável referência a O Mágico de Oz em um momento pré-batalha) e o texto é ridiculamente
unidimensional ao retratar todos os
japoneses do filme (e não são poucos) como verdadeiros monstros psicopatas, sem
nada a perder – algo que Mel Gibson realça ao trazê-los sempre atacando
gritando, e com olhos arregalados.
E se o zoom in que o diretor utiliza enquanto um personagem faz um
monólogo é batido e tolo, a opção de trazer o protagonista literalmente
rebatendo granadas no meio de uma batalha é exagerada até mesmo para os padrões
do filme.
Mas o elenco também é forte:
Andrew Garfield além de convencer com um sotaque completamente diferente do seu
(ele originalmente tem um sotaque quase britânico, enquanto seu personagem é um
sulista americano), também estabelece uma ótima dinâmica com Teresa Palmer, que
interpreta sua esposa, trazendo humanidade e vulnerabilidade para seu
personagem, o que é importantíssimo dentro da proposta do filme. E enquanto Vince
Vaughn surpreendentemente convence como “militar durão”, Hugo Weaving é
beneficiado pelo roteiro e compõe um personagem multidimensional que atrás do
clichê de “pai abusivo” traz seus próprios traumas e motivações pessoais.
Tendo sua parcela de erros e
exageros, que de certa forma são até esperados de um filme do Mel Gibson, mas
também seus indiscutíveis méritos cinematográficos, Até o Último Homem é um filme que por estar na mão do diretor
certo, explora ao máximo suas virtudes e se mostra uma experiência interessante
e envolvente.
Muito Bom! |
João Vitor, 25 de Fevereiro de
2017.
Não é um dos meus gêneros preferidos, mas a historia foi muito interessante. Quando leio que um filme será baseado em fatos reais, automaticamente chama a minha atenção, adoro ver como os adaptam para a tela grande, acho que são as melhores historias, porque não necessita da ficção para fazer uma boa produção. Gostei muito de Até o último homem, não conhecia a história e realmente gostei, acho que é um dos melhores filmes drama é muito bom! É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia, achei um filme ideal para se divertir e descansar do louco ritmo da semana.
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