Ao longo de sua prolífera
carreira, Tim Burton realizou apenas um filme que pode ser classificado como
obra-prima (Edward Mãos de Tesoura,
1990), e apenas um que pode ser chamado de desastre (Planeta dos Macacos, 2001), conseguindo entre os outros títulos
manter uma interessante regularidade e estabelecer uma estética própria
bastante característica que, compreensivamente, o levou à fama. E este seu novo trabalho, O Lar das Crianças Peculiares é
possivelmente sua melhor obra desde o excelente Sweeney Todd (2007), sendo um filme irregular e longo, mas
adorável.
O roteiro de Jane Goldman,
adaptado do livro de Ransom Riggs, segue o jovem Jake (Asa Butterfield) que, após
a morte misteriosa de seu avô, parte para o País de Gales com seu pai e lá descobre
uma fenda temporal onde se encontra um orfanato para crianças dotadas de
poderes especiais.
A maior força do filme está em
seu cativante universo e mitologia, que caem como uma luva no estilo de
filmagem de Tim Burton. Se equilibrando muito bem entre o infantil e o terror
(reparem como as caracterizações das “crianças peculiares” têm um charme
inocente e uma ameaça macabra ao mesmo tempo), o filme ainda tem sequências de
ação muito bem coreografadas e divertidas (destaque para a cena que envolve
esqueletos guerreiros), embora eventualmente alguns confrontos pareçam “fácil
demais” em relação à ameaça estabelecida até então.
Mas mesmo com um universo
particular e interessante, o roteiro tem sua dose de defeitos. O protagonista é
completamente sem personalidade, e isso acaba sendo um grande problema quando o
filme tenta dar peso dramático em sua relação com seu avô. Além disso, o
personagem é constantemente utilizado como muleta para diálogos expositivos,
surgindo em cena quase sempre fazendo perguntas e mais perguntas
sucessivamente. Por outro lado, os personagens secundários são, em sua maioria,
muito interessantes, e quando surgem utilizando seus poderes em conjunto o
filme encontra seus melhores momentos (e aqui é impossível evitar a comparação
com a série X-Men).
No elenco temos Asa Butterfield
vivendo com inexpressividade o protagonista, que por sua vez já não é tão
interessante assim, e Eva Green como a líder do orfanato, que acerta por ser
esquisita sem ser caricata. Já Samuel Jackson, que vive o vilão, se prejudica
um pouco por demorar a aparecer, mas consegue se divertir imensamente e ser
ameaçador ao mesmo tempo (e o trabalho de efeitos visuais mais uma vez merece
créditos pela caracterização das criaturas vilanescas que são completamente
assustadoras sem que para isso precisem quebrar a lógica estética do restante
do filme).
Tendo uma ótima mitologia e
personagens que superam as fragilidades do roteiro, O Lar das Crianças Peculiares é diversão de primeira e um dos
melhores trabalhos recentes de Tim Burton. Está longe de ser uma obra prima,
mas vale o ingresso.
Bom! |
João Vitor, 22 de Outubro de
2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário