Caça-Fantasmas (ou como deveria ser: “As Caça-Fantasmas”) é um dos filmes mais divertidos do ano,
funcionando como comédia graças ao ótimo timing cômico de seu elenco e
conseguindo ainda ser uma homenagem ao Caça Fantasmas original, sem que para
isso precise repetir suas ideias.
O roteiro começa seguindo Erin Gilbert
(Kristen Wiig), uma respeitada professora universitária que é demitida após a
descoberta de um livro antigo seu sobre atividades paranormais, escrito em
parceria com sua amiga de infância Abby Yates (Melissa McCarthy). Mas após
alguns eventos estranhos envolvendo fantasmas serem presenciados na cidade, as
duas se unem à engenheira Jillian Holtzmann (Kate McKinnon) e à funcionária do
metrô Patty Tolan (Leslie Jones) para combater essa ameaça e salvar Nova York.
Se beneficiando desde o início
pela forte dinâmica entre as atrizes principais, o diretor Paul Feig (das
ótimas comédias Missão Madrinha de
Casamento e A Espiã que Sabia de
Menos) mais uma vez demostra um excelente timing cômico e deixa as piadas
surgirem de maneira natural, impedindo que os momentos menos inspirados pareçam
embaraçosos. E assim como acontecia em A
Espiã que Sabia de Menos (que além de comédia, funcionava também como um
filme de espionagem), o diretor demostra mais uma vez um enorme talento para
conduzir sequências de ação e até momentos de criação de tensão, fazendo o
filme funcionar em vários níveis.
Vale apontar também que Feig faz
um uso muito interessante do 3D, ao utilizar uma razão de aspecto que deixa
pequenas faixas pretas em cima e em baixo da imagem, podendo assim fazer com
que alguns elementos (como os raios das heroínas e as gosmas dos fantasmas)
saiam da imagem e invadam esses espaços pretos, dando a ilusão de que realmente
estão saindo da tela, e criando uma sensação de imersão que poucos filmes
conseguem fazer.
E para isso o trabalho de efeitos
visuais também é impecável, sendo inventivo no designe dos fantasmas (que são
um equilíbrio interessante entre assustador, engraçado, e homenagem ao filme
original), acertando ainda por trazer sempre muitas cores vibrantes (principalmente
azul e verde), o que cria um senso de ameaça eficiente e também beneficia o 3D.
Já o roteiro escrito pelo próprio
Paul Feig e por Katie Dippold acerta por não copiar a estrutura do primeiro
Caça-Fantasmas, nem tampouco tenta fazer com que as novas personagens sejam
versões do quarteto original. Ainda assim, o vilão deixa bastante a desejar,
sendo bem genérico em seus planos e motivações, e toda a subtrama envolvendo o
prefeito de Nova York é bem mal desenvolvida (ainda que gere alguns momentos genuinamente
engraçados por conta do talento do elenco).
Mas dito isso, o fato é que o
roteiro funciona muito bem como uma homenagem ao filme original de 1984
(destaque para a maneira como o logo do grupo é revelado), e as participações
especiais não deixam de ser divertidas, por mais que uma em específica se
estenda bem mais do que o necessário.
O elenco também não decepciona
nem um pouco. Melissa McCarthy demostra mais uma vez um grande talento para o
humor físico (destaque para a cena que envolve um jato de raio descontrolado) e
Kristen Wiig protagoniza o filme não apenas com um ótimo timing cômico (a
dinâmica dela com Chris Hemsworth é excelente), como também gera empatia
através de sua fragilidade e modos desajeitados.
Fechando o grupo principal temos
também Kate McKinnon, que é provavelmente a mais segura das personagens, e por
fim Leslie Jones, que é responsável por um dos momentos mais engraçados do
longa (aquele que envolve uma referência ao clássico O Iluminado).
No elenco secundário temos ainda
Charles Dance, em uma versão moderna de Tywin Lannister, e Chris Hemsworth, que
se diverte fazendo a versão masculina do estereotipo de secretária bonita, mas
sem inteligência (o que não deixa de ser uma piadinha irônica com os
comentários machistas recebidos pelo filme antes mesmo de seu lançamento).
Sendo uma homenagem a um
clássico, mas ao mesmo tempo um filme original e acima de tudo muito divertido,
Caça-Fantasmas não só vale o ingresso
(3D, se possível) como ainda prova que nem sempre motivações financeiras são os
únicos objetivos dos constantes remakes.
Muito Bom! |
João Vitor, 16 de Julho de 2016.
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