“Você não precisa concordar com os políticos para ser um
patriota”. Esta frase, dita por um personagem durante o filme Snowden, é
perfeita para definir a carreira do diretor Oliver Stone. Vencedor de dois
Oscars e mundialmente renomado, o diretor investiu seus filmes em estudar a
história americana (a guerra do Vietnam em Platoon;
o assassinato de Kennedy em JFK; a trajetória
do presidente Bush em W; a exploração
da violência pela mídia sensacionalista em Assassinos
por Natureza; e tantos outros), mas sem que para isso precisasse adotar uma
visão ufanista cega (tão comum entre americanos), não hesitando em retratar e
criticar absurdos cometidos em nome de seu país, já que afinal, essas ações são
feitas por pessoas e não pelo país em si.
Sendo assim, ninguém melhor que ele para dirigir uma
biografia de uma figura tão controversa e dita “anti-patriota” como Edward
Snowden (responsável por vazar informações sigilosas sobre o serviço secreto de
espionagem ilegal praticado pela NSA), que além de ter uma importância enorme
no atual cenário político mundial, é também uma figura movida por nacionalismo,
e sua decisão de vazar informações secretas nacionais (independente de você
concordar ou não com ele) foi motivada não por traição, mas sim por revolta de
ver o país que defende sendo responsável por ações tão imorais.
E dentro do que se propõe o filme é bastante eficiente,
conseguindo ilustrar de maneira didática, mas não excessivamente expositiva, a
vastidão do sistema de espionagem americano, conseguindo fazer com que vários
detalhes técnicos sejam facilmente entendidos pelo público, e suas dimensões
imorais fiquem claras (como o sistema que permite a Agencia Nacional de
Segurança ter acesso a webcams ao vivo por todo o mundo).
Apostando em uma montagem dinâmica que permite que até mesmo
os momentos mais técnicos da trama sejam retratados de maneira interessante, o
experiente diretor Oliver Stone também é hábil em criar tensão e acerta por sua
abordagem discreta, ainda que traga alguns clichês mais óbvios, como ao trazer
o protagonista sumindo dentro de uma luz branca ao se ver “livre” após
conseguir fugir com as informações que pretende divulgar.
Mas mesmo sendo didático quanto a suas denúncias, o roteiro
escrito pelo próprio diretor em parceria com Kieran Fitzgerald não deixa de se
prejudicar por perder muito tempo em subtramas políticas que acabam deixando o
ritmo bem mais monótono do que o necessário – especialmente em sua hora final.
Por outro lado, é interessante como a dupla consegue encaixar função até mesmo
para um traço de personalidade mais caricato do personagem, como a sua mania de
andar sempre com um cubo mágico.
Também não posso deixar de elogiar a excelente atuação
central de Joseph Gordon-Levitt, que imita a voz original de Snowden de maneira
impressionante e natural, convencendo também pelos trejeitos tímidos, como o
leve ajeitar de óculos, que passam a personalidade inicialmente introspectiva
do personagem, que percorre um arco dramático interessante, onde no início se
mostra mais conservador dizendo que “não gosta de criticar o governo” como a
“mídia liberal”, e no fim acaba sendo responsável por algo que esses mesmos
conversadores hoje consideram uma traição.
Ilustrando de maneira bastante didática como a “guerra
contra o terrorismo” acaba sendo apenas uma desculpa para atos ilegais que
beneficiam os EUA politica, social, e economicamente, Snowden é mais um bom filme na carreira de Oliver Stone, que mais
uma vez equilibra seu amor a seu país com o bom senso de alguém que não é cego
para atos imorais.
Bom! |
João Vitor, 13 de Dezembro de 2016.
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