O Homem nas Trevas é um filme envolvente e assustador que mesmo com
um roteiro esquemático consegue se estabelecer como um dos melhores grandes
lançamentos do ano.
A história se passa em Detroit,
cidade americana que pediu falência após a crise de 2008 e que está
praticamente abandonada, e acompanha três jovens criminosos que decidem roubar
uma grande quantia de dinheiro de um velho militar cego que mora sozinho. Mas
quando eles invadem a casa descobrem que o senhor não é tão debilitado quanto
parece, e logo se encontram sem saída tendo que lutar por suas vidas.
A direção segura de Fede Alvarez
talvez seja a principal força do filme. Eficiente em estabelecer a geografia limitada
do filme em sua meia hora inicial, com longos planos sequência que passeiam
pela casa apresentando os diversos elementos que eventualmente serão
fundamentais, o diretor ainda brinca com a expectativa do público e dosa muito
bem os sustos mais exagerados.
Já a fotografia de Pedro Luque merece
créditos por conseguir se manter compreensível mesmo o filme se passando
praticamente todo de noite em um lugar mal iluminado, equilibrando muito bem as
sombras e as luzes amareladas ameaçadoras. Além disso, a decisão de mergulhar a
tela em luz cinza para sugerir a total ausência de luz é de uma beleza plástica
sublime e foge do que seria o convencional (o verde de visão noturna).
O roteiro escrito pelo próprio
diretor em parceria com Rodolfo Sayagues tem seus clichês de gênero, mas traz
um subtexto interessante e crítico sobre o “American Dream” (o fato de o homem
cego ter perdido a visão na Guerra do Iraque, a história se passar em uma
cidade falida, e a casa de um dos personagens trazer uma enorme bandeira dos
Estados Unidos em sua fachada não é à toa). Além disso, a construção dos
personagens é bastante esquemática, mas não deixa de ser eficiente (um
criminoso inconsequente, dois anti-heróis que agem por motivações humanas para
gerar identificação com o espectador, e um vilão indestrutível). O texto só erra
mesmo ao se render a um moralismo e sugerir que o sadismo do vilão se deve à
sua falta de fé.
Se encerrando em uma nota que
equilibra muito bem todos os possíveis caminhos que a história poderia tomar
(mais pessimista, mais cínico, mais recompensador, etc.), O Homem nas Trevas é um ótimo filme, que prende a atenção até seu
segundo final e mostra que mesmo uma premissa convencional pode gerar bons
frutos se estiver nas mãos certas.
Muito Bom! |
João Vitor, 18 de Setembro de
2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
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