Loving é um filme que não precisa de momentos exagerados e
melodramáticos para fazer chorar, uma vez que compreende a força de sua
história e de seus personagens e cria uma narrativa sutil, que comove pela
delicadeza e pelas excelentes atuações de seu casal principal.
O roteiro escrito pelo diretor
Jeff Nichols conta a história real (!!) do casal Richard e Mildred Loving (sim,
este era o sobrenome verdadeiro!) que em 1958 foram presos e obrigados a
deixarem seu estado natal, Virgínia, nos Estados Unidos, pelo fato de terem se
casado, sendo que casamento inter-racial era crime no estado.
É claro que trata-se de um
história naturalmente dramática, mas o maior acerto do diretor e roteirista
Jeff Nichols (do ótimo Midnight Special)
é não exagerar em sua abordagem de modo a criar uma narrativa artificial.
Apostando em uma visão delicada, onde a câmera se limita a observar com carinho
os personagens, Nichols consegue fazer com que a força dramática do filme surja
de gestos cotidianos, acertando por deixar espaço para performances doces e
sutis dos atores.
E que atores! Joel Edgerton vive
Richard Loving como um sujeito tímido, o que se reflete em sua dicção difícil e
introspectiva (aliás, é notável como o ator substitui de maneira muito
convincente seu natural sotaque australiano por um sotaque sulista americano),
surgindo em cena sempre com um olhar bondoso e comovente, que passam o amor
genuíno que ele sente por sua esposa. Já Ruth Negga vive Mildred com doçura e
representa muito bem seu gradual engajamento com o processo legal em que o
casal estava envolvido.
Outro acerto do filme é ao
estabelecer em sua primeira meia hora uma atmosfera confortável e de lar para
os personagens no estado de Virgínia (com paisagens tranquilas e atmosfera
sonora agradável, silenciosa – que depois contrasta completamente com a casa do
casal em Washington, onde até a cama parece fazer um barulho insuportável) – o
que faz com que ao serem forçados a se exilarem, a decisão não apenas gera
revolta pela injustiça como também é um golpe dramático por terem de deixar um
lugar no qual se sentem tão bem acolhidos.
Também é notável como o filme não
se perde ao lidar com o processo legal envolvendo o casal, e também ao retratar
o papel da mídia durante esse processo. Não apelando para figuras vilanescas
unidimensionais (reparem como os juízes do filme realmente parecem pessoas
reais e não vilões clássicos), e acertando por utilizar os advogados envolvidos
no processo como meros coadjuvantes, o filme sempre tem a certeza de que a
história que quer contar é protagonizada única e exclusivamente pelo casal
Loving, e o que acontece ao redor deles são consequências. Sendo assim, mesmo
ao retratar os acontecimentos reais importantes (que, afinal, mudaram a
Constituição dos Estados Unidos!), Nichols deixa claro que o que realmente
importa no filme são as consequências para o casal, deixando sempre claro o que
cada acontecimento significou para eles – e dessa forma, nunca perdendo o
controle dramático da narrativa.
Sendo um filme delicado e que
comove pela sutileza sem precisar apelar para o melodrama, Loving é mais um ótimo filme na carreira de Jeff Nichols, sendo um
filme que traz uma construção dramática cuidadosa, onde pequenos gestos são
capazes de emocionar, e que prova o envolvimento emocional do espectador ao
chegar a seus letreiros finais – onde segurar as lágrimas pode ser uma tarefa
difícil.
Muito Bom! |
João Vitor, 26 de Dezembro de 2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
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