Bone Tomahawk é um dos melhores e mais esquisitos filmes que eu vi
até agora neste ano. Mesmo sendo absurdo, ele nunca se leva mais a sério do que
deveria, se mostrando uma obra inesquecível e única justamente pela sua
bizarrice.
O filme acompanha um grupo de
quatro pessoas (um xerife, um idoso, um pistoleiro, e um homem com a perna
quebrada) que se unem para resgatar uma moça sequestrada por um grupo de índios
canibais.
Já se iniciando com um
assassinato envolvendo um pescoço cortado a faca, Bone Tomahawk logo se estabelece como uma narrativa imprevisível
que mesmo recheada de alívios cômicos pode surpreender a todo o momento com uma
súbita explosão de violência.
Uma coisa que pode afastar um
pouco o público é a relativa lentidão da trama. Além da duração mais longa do
que o convencional (2 horas e 10), seus primeiros quarenta minutos se dedicam
exclusivamente a apresentar os personagens e estabelecer a lógica da narrativa.
Mas isso se mostra uma decisão acertada e fundamental para a força dramática do
filme. Após deixar o espectador conhecer com calma os personagens
(principalmente a dinâmica entre o personagem de Patrick Wilson e sua esposa –
que será sequestrada) fica mais fácil entender as motivações e a persistência
do grupo em ir atrás do resgate.
Além disso, o diretor S. Craig
Zahler também utiliza esse longo primeiro ato para estabelecer o tom que vai
perdurar por todo o filme. Utilizando pouquíssima trilha instrumental (e que
quando aparece se mostra melancólica, não grandiosa), o diretor dá um toque de
casualidade aos acontecimentos, o que, somando à violência gráfica, ainda dá um
interessante toque de humor negro (reparem na naturalidade com o qual o xerife
interpretado por Kurt Russell saca sua pistola e dá um tiro na perna de outro
personagem).
Mas além do drama (estabelecido
pelo roteiro no primeiro ato, e pela trilha melancólica) e do humor (pela
casualidade da violência e pelos diálogos – que abordarei daqui a pouco) o
filme ainda funciona como um western, contando com uma fotografia “vintage”
linda e um designe de produção competente por fazer um trabalho de reconstrução
de época sem chamar a atenção para si, e também é competente como um suspense
(a cena passada em um estábulo a noite é de uma tensão absurda).
Em relação ao senso de humor, é
interessante como, além da violência absurda (tem uma cena em particular que
envolve um personagem sendo barbaramente assassinado que eu garanto que você
nunca irá esquecer), o roteiro ainda surpreende por conseguir extrair riso de diálogos
quase “nonsense” passados nas situações mais atípicas (como a conversa sobre
como é impossível ler um livro enquanto se está em uma banheira, e outra
envolvendo um circo de pulgas).
O elenco também não decepciona e
se mostra homogeneamente competente (se houvesse uma categoria de “Melhor
Quarteto” no Oscar, este filme com certeza deveria ser o vencedor). Kurt
Russell (que também esteve recentemente em outro excelente western – “Os Oito
Odiados”) interpreta seu xerife com um senso de honra inquestionável e convincente.
Matthew Fox (o eterno Jack da série “Lost”) também convence pelo seu mistério e
sua prepotência diante de seus companheiros, e se suas motivações podem parecer
um pouco genérica, tampouco soam falsas.
Já Patrick Wilson (ator
subestimado, com uma carreira invejável) consegue passar toda a dedicação de
seu personagem em relação ao resgate de sua esposa, e mesmo passando todo o
filme sofrendo por conta de sua perna quebrada, o ator foge da monotonia e não
se limita a fazer expressão de dor em todas suas aparições, sendo o principal
responsável pela força dramática da narrativa.
Mas quem realmente se destaca é
Richard Jenkins. Funcionando na maior parte como o alívio cômico do filme
(todos os diálogos mais peculiares são protagonizados por ele), o ator
experiente de 68 anos ainda surpreende pela capacidade de humor físico (como a
cena que traz seu personagem armado invadindo um celeiro).
É verdade que o filme se rende a
alguns pequenos clichês (os cortes secos no momento exato de alguns tiros, por
exemplo, são bem genéricos), mas pelo menos compensa por seu final corajoso,
que não alonga a trama nem um segundo a mais do que o estritamente necessário
(lembrando até um pouco o desfecho do clássico Intriga Internacional, de 1959 dirigido pelo mestre Hitchcock).
Sendo uma obra atípica, excelente
e acima de tudo bizarra, Bone Tomahawk
é um filmaço, sendo um equilíbrio perfeito entre western, drama, suspense e
comédia de humor negro. Não é um filme fácil, e nem dá para dizer que é para
todo mundo, mas para quem gosta de um filme ousado e diferente é um prato
cheio.
Ótimo! |
João Vitor, 19 de Fevereiro de 2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
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