Dheepan é puro Jacques Audiard. Assim como os outros trabalhos do
diretor, este vencedor da Palma de Ouro em Cannes do ano passado traz todas
suas características marcantes: um protagonista perturbado e sofrido,
imperfeito, mas que luta contra suas imperfeições, e uma narrativa triste e
melancólica, ainda que se permita pequenos momentos de felicidade.
A sinopse é a seguinte: após
assumirem identidades falsas para fugirem de seu país natal que está em guerra
(Sri Lanka), Dheepan (Antonythasan Jesuthasan), Yalini (Kalieaswari Srinivasan)
e Illayaal (Claudine Vinasithamby) chegam à França e têm que conviver como se
fossem uma família. Dheepan consegue emprego como zelador, enquanto Yalini
trabalha como empregada doméstica, e mesmo não conhecendo o idioma local, eles
tentam levar um vida normal.
O filme claramente pode ser
dividido em duas metades. Na primeira ele assume o caráter de um drama, com uma
abordagem pessimista e melancólica. Já na segunda, a narrativa ganha toques de
ação, e alguns momentos de felicidade são permitidos aos personagens.
Durante a primeira parte o
diretor Jacques Audiard opta por uma ausência quase que completa de trilha
instrumental, além de sempre manter a câmera na mão em planos fechadíssimos que
funcionam perfeitamente bem para passar ao espectador o sufocamento e as
dificuldades vividas pelos personagens, especialmente o protagonista.
Quando algumas coisas se
assentam, e os personagens aos poucos vão se ajustando à suas novas vidas, a
abordagem do diretor já muda, se permitindo até algumas sequências mais lúdicas,
como aquela passada em um parque ao som de uma bela melodia instrumental.
Além disso, nesta sua parte final
o filme também traz toques de Cinema de gênero, e o diretor se mostra hábil em
conseguir extrair tensão e energia das sequências de ação sem que para isso
precise mudar sua lógica estética, ainda mantendo a câmera na mão e planos
fechados, mas agora também utilizando trilha instrumental.
Mas ainda a ação funcione
tecnicamente, o fato é que ela não deixa de soar exagerada no clímax da
narrativa, contrariando o tom que estava estabelecido até então, parecendo
existir apenas para agitar o público que até ali vinha acompanhando uma
narrativa mais lenta e intimista.
Além disso, vale dizer que os
segundos finais do filme pecam muito pela artificialidade. Terminado em uma
nota otimista, para tentar aliviar todo o sofrimento visto até ali, o filme
aposta em um desfecho que traz uma felicidade que não convence dentro do
contexto da narrativa, e leva o espectador para os créditos finais com um gosto
amargo.
Mas mesmo que escorregue em sua
parte final, Dheepan ainda é um bom
filme, que trata de um tema atual e merece muito ser visto. Pode até não ser
digno da Palma de Ouro (principalmente em um ano que tem os irmãos Coen como
presidentes do júri), mas é mais um acerto de Jacques Audiard, que por sua vez
tem uma carreira bem interessante.
Bom. |
João Vitor, 9 de Março de 2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
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