Depois de uma longa e prolífera
carreira em curtas metragens que contavam suas histórias muito mais através de
imagens do que de diálogos, Rodrigo Grota chega agora a seu primeiro longa
metragem, e que curiosamente é um filme recheado de diálogos elaborados e
longos monólogos, mas que tem tanto a dizer em suas palavras quanto em seus
detalhes.
O roteiro segue Ezequiel (Felipe
Kannenberg), um ex-piloto de kart que retorna a sua cidade natal depois de 15
anos e reencontra seu pai (José Maschio ), um antigo amor (Simone Iliescu), e
seu jovem sobrinho (Bruno Silva), que sonha em se tornar piloto.
Com uma fotografia esfumaçada e
melancólica que traz os atores constantemente envoltos por fumaças de cigarros,
o filme é hábil desde o início em evocar a atmosfera de tristeza e desesperança
experimentada pelos personagens. Sendo igualmente interessante a maneira como o
roteiro encaixa diversos simbolismos, desde os mais claros, como aqueles que
envolvem as corridas de kart (a necessidade de ir sempre rápido, chegar antes,
mas sempre voltar para o mesmo lugar), até os mais sutis, como na cena que traz
pai e filho conversando calculadamente enquanto jogam cartas. Achando ainda
espaço para belíssimos e evocativos monólogos, que poderiam parecer artificiais
se não fossem tão bem escritos e interpretados.
E como comentei no início, não
deixa de ser irônico que um filme tão bem falado também tenha tanto a dizer em
seus pequenos detalhes. E para isso a força de seu elenco se mostra
fundamental.
Felipe Kannenberg tem a difícil
tarefa de praticamente se expressar apenas com o olhar, e o faz admiravelmente
bem. Já Simone Iliescu não apenas traz a constante dor de sua personagem, que
se contrapõe com sua aparente vivacidade, em todas suas cenas, como ainda tem a
oportunidade de protagonizar um dos momentos mais belos do longa – aquele que a
traz cantando uma música acapella em um estúdio.
O elenco secundário também não
fica para trás. Enquanto José Maschio evoca com competência toda a experiência
e (por consequência) desesperança de seu personagem (que encontra seu auge na
cena em que ele confronta o filho em busca de alguma atitude), os jovens Filipe
Garcia e Bruno Silva exibem uma boa dinâmica enquanto suas juventudes
representam um sobro de esperança em um mundo dominado pela melancolia (e a
vontade de sair da cidade em busca de novos caminhos se contrapõe com a jornada
do protagonista, que está justamente voltando para sua cidade natal depois de
muitos anos – em uma sutileza que o próprio filme comenta ao trazer um
personagem falando sobre a estranheza que sentiu ao perder um parente ao mesmo
tempo em que um amigo tinha acabado de ganhar um filho).
Tendo ainda uma belíssima trilha
sonora, que além da pegada anos 90 se equilibra muitíssimo bem entre a
melancolia, nostalgia e energia (a música de abertura, a que acompanha um
treino de kart, e outra que acompanha um desentendimento entre dois personagens
são as minha favoritas – não consigo escolher só uma), Leste Oeste é um belo filme, que compreende a força de seus personagens
e só tende a ficar ainda mais forte depois de uma reflexão – e filme assim são
sempre os melhores.
Muito Bom! |
João Vitor, 17 de Agosto de 2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
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