Vejam só que novidade: mais um
filme de super-herói!
A boa notícia é que este novo Doutor Estranho é um filme que, mesmo
convencional e formulaico, ao menos se preocupa em trazer elementos visuais
realmente originais e interessantes, além de contar com uma atuação central
inspirada de um ótimo ator.
A trama é o que já é esperado de
um filme do gênero: um homem arrogante sofre um acidente e no processo de
recuperação ganha superpoderes, combate o mal, e aprende a ser uma pessoa
melhor.
Em relação ao roteiro, não há
nada de novo aqui. O arco do protagonista é o mais convencional possível, o
vilão tem motivações completamente genéricas, e diversos diálogos são recheados
de clichês (“Esqueça tudo o que você pensa que sabe” – quantos outros filmes
não trazem uma versão desta frase?).
Felizmente, porém, o texto
escrito por Jon Spaihts, C. Robert Cargill e Scott Derrickson também tem sua
dose de acertos. O senso de humor é bastante afinado (gosto particularmente de
uma piada que envolve a Beyonce – em um raro momento de sutileza do filme), e o
embate entre a ciência racional do protagonista e a magia de seu novo mundo
também rendem momentos inspirados. Além disso, a abordagem dada à capa usada
pelo protagonista também é muito divertida e brinca com clichês de maneira
original.
Mas o que realmente faz o filme
valer a pena são seus conceitos visuais, que não apenas são impressionantes do
ponto de vista técnico como também servem à narrativa organicamente. E
justamente por conseguir representar visualmente conceitos tão abstratos, me
arrisco a dizer que este trabalho de efeitos visuais será o meu favorito na
corrida pelo Oscar. E por serem tão impressionantes também não posso deixar de
recomendar a versão 3D, apesar da paleta acinzentada que perdura por boa parte
na narrativa prejudicar muito a terceira dimensão.
Sendo assim, não deixa de ser uma
pena que o diretor Scott Derrickson (que vem do cinema de terror – uma aposta
interessante do estúdio) se limite a coreografias tão genéricas para as
sequências de ação, e aposte em uma trilha sonora tão onipresente e desprovida
de sutilezas (ainda que alguns temas sombrios que acompanham os vilões tenham
me agradado).
Já no elenco, o maior destaque
fica por conta de Benedict Cumberbatch, que protagoniza o filme com um
equilíbrio perfeito entre arrogância e carisma, convencendo até nos momentos
mais genéricos e artificiais do longa. Tilda Swinton também se mostra
completamente à vontade em um papel feito na medida para ela: uma anciã
misteriosa e sábia.
E se Rachel McAdams e Chiwetel
Ejiofor conseguem deixar fortes impressões mesmo sendo subutilizados, Mads
Mikkelsen, como vilão, se prejudica por ter pouco tempo de tela e motivações
convencionais, mas conta com uma caracterização sombria e ameaçadora e consegue
criar um personagem levemente interessante.
Cansando ainda por seu longo e
repetitivo terceiro ato, Doutor Estranho
é um filme esquecível e genérico, mas é também uma experiência cinematográfica
visualmente impressionante e muitas vezes até original, valendo a pena por sua
criatividade estética, por pontuais momentos inspirados de humor, e por sua
ótima atuação central.
Bom. |
João Vitor, 3 de Novembro de 2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
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