Responsável por pelo menos cinco
filmes que podem ser classificados como irretocáveis, Steven Spielberg já
gravou seu nome na história do Cinema. E por mais que sua tendência para o
melodrama incomode bastante, principalmente em trabalhos recentes, sua
capacidade de encantar e envolver com suas histórias é sempre algo a se
admirar. Mas neste novo O Bom Gigante
Amigo pouco se vê daquele cineasta que conseguiu em UM único filme fazer
DOIS dos momentos mais lindos já filmados pro Cinema (a bicicleta voando em
frente à lua e a despedida final em E.T:
O Extraterrestre), já que se trata de um filme aborrecido e que só se salva
do fracasso completo por pontuais momentos que valem pela inocência e pelo
senso de aventura.
Baseado em um livro de Roald Dahl
(mesmo autor de A Fantástica Fábrica de
Chocolate e O Fantástico Sr. Raposo),
o filme conta a história da órfã Sophie (a estreante – e ótima – Ruby
Barnhill), que um dia conhece um amigável gigante (Mark Rylance), que sai às
ruas à noite espalhando sonhos fabricados por ele mesmo. Os dois desenvolvem
uma amizade, mas se veem ameaçados por outros gigantes, que querem devorá-la.
Como fica claro pela sinopse, o
clima de conto de fadas e inocência é inerente ao filme, e Spielberg se mostra
muito eficiente ao se divertir criando quadros que visivelmente remetem a
ilustrações de livros infantis (como ao acompanhar as manobras do gigante para
não ser visto durante a noite). Além disso, o diretor é mais uma vez eficaz em
criar momentos onde o clima de aventura é pulsante e é impossível não se
envolver (a cena que envolve alguns gigantes utilizando carros como patins e
outra que traz a protagonista correndo pela casa do personagem título tentando
se esconder dos vilões são meus favoritos).
Por outro lado, se Spielberg
tinha demostrado em As Aventuras de
Tintim (2011) que tinha uma impressionante noção de como utilizar o 3D em
prol de uma experiência mais envolvente, aqui a tecnologia é completamente
descartável, e ainda se prejudica pelo fato de o filme se passar quase todo
durante a noite (vale lembrar que os óculos 3D já tendem a deixar a tela mais
escura).
Ainda assim, o CGI é
impressionante, não apenas ao criar os ambientes onde os gigantes vivem, mas
também, principalmente, no trabalho de motion
capture que permite dar humanidade às criaturas digitais. E mesmo que a atuação
de Mark Rylance possa soar um pouco unidimensional ao exagerar no
“bom-mocismo”, o fato é que o ator é eficiente no que o personagem pede, e
consegue transbordar fragilidade e bondade (mas confesso que o dialeto criado
para os gigantes, cheios de erros de concordância e neologismos, me cansou
muito conforme o filme avançava).
Já a trilha sonora de John
Williams é eficiente em criar um clima de fantasia, mas peca muito pelo
excesso, sendo praticamente ininterrupta o filme inteiro, o que se torna
cansativo e ainda “anestesia” o espectador para o momentos onde a música é
realmente necessária.
Mas se a primeira hora e meia do
filme conseguem até conquistar pela inocência, mesmo não sendo muito original e
tendo alguns excessos, o mesmo não pode ser dito da meia hora final, onde o
filme praticamente naufraga e deixa quase que completamente de lado o clima de
fantasia criado até então para tentar achar um desfecho apostando na comédia, e
o resultado é uma das piores coisas que eu vi no cinema em muito tempo.
Mudando seu tom literalmente de
uma cena para outra, o filme gasta uma longa sequência apenas para fazer um
humor bobo e imaturo, onde acompanhamos por pelo menos dez minutos um jantar
envolvendo o gigante e outras pessoas em tamanho normal, e as piadas se resumem
a ele cuspindo um chá e encharcando quem está por perto, e o clímax cômico da
sequência envolve (sério!) cachorros peidando.
Pecando ainda por um clímax
decepcionante e um desfecho completamente conveniente e sem preparo algum (onde
personagens que acabaram de se conhecer viram amigos de longa data), O Bom Gigante Amigo tem um certo charme
inocente que é interessante, mas é um filme longo demais e completamente
aborrecido, que mesmo criando empatia com seu personagem título, acaba sendo um
dos piores filmes da carreira de Spielberg. Não chega a ser um desastre total,
mas passa perto.
Regular. |
João Vitor, 29 de Julho de 2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
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