O grupo Porta dos Fundos está sem
dúvidas entre as melhores coisas do humor brasileiro atual. Mantendo uma
impressionante regularidade ao longo de seus 4 anos de existência, o grupo
consegue através de suas breves esquetes fazer um humor ácido e inteligente,
contando ainda com atores de ótimos timings
cômicos e grande talento para humor físico. E agora com seu primeiro longa
metragem, o grupo prova mais uma vez seu talento, embora demonstrem dificuldade
em adaptar a linguagem de internet para o Cinema.
O roteiro, escrito por Fábio
Porchat e Gabriel Esteves, começa acompanhando o diretor Miguel (Gregório
Duvivier) e o ator Rodrigo (Fábio Porchat) que ganham um importante prêmio no
Festival de Cannes e no meio da comemoração assinam, em um guardanapo de bar,
um contrato que os obrigam a sempre trabalharem juntos. Mas logo em seguida
Miguel desaparece misteriosamente retornando apenas 10 anos depois, falando coisas
sobre abdução alienígena no centro da Terra e disposto a gravar um filme sobre
essa experiência. E eis que Rodrigo, agora um ator de sucesso, se vê obrigado a
participar dessa produção, mesmo contra sua vontade.
Utilizando a trama apenas como
uma desculpa para criar personagens absurdos e situações inusitadas, o filme
acerta ao aproveitar uma das coisas que o grupo tem de melhor: a capacidade de
trazer personagens que divertem pelo exagero de suas personalidades.
Sendo assim, o único personagem
que poderia ser classificado como “normal”, e que funciona para gerar
identificação com o espectador, é justamente o protagonista (vivido com talento
por Porchat, que demostra um ótimo humor físico, mas também convence ao passar
de maneira sutil os sentimentos de seu personagem) e todos os outros poderiam
facilmente ter saído de uma das esquetes do grupo: Luís Lobianco vive um assessor
obcecado por mídia, Marcos Veras é um “repórter” de revista de fofoca, Thati
Lopes é uma “blogueira fitness” que “vloga” o tempo todo, Julia Rabelo é uma
preparadora de elenco psicopata, e por aí vai...
Conseguindo se divertir como o
nosso constante vício em tecnologia e tirando sarro desde filmes cults até grandes produções genéricas (“—
Assinou sem ler? Deve ser assim que o Adam Sandler faz tanto filme bosta” diz
Duvivier em um dos melhores diálogos do roteiro), o filme tem diversos momentos
inspirados (a cena que envolve uma coletiva de imprensa em várias línguas daria
uma excelente esquete, e o diálogo que traz a fala “... ele é filho de um
semideus do fogo com uma prostituta do Piauí” é algo que só o grupo poderia
criar), ainda que também tenha sua dose de momentos desajeitados (a cena que
traz os dois personagens principais recebendo um prêmio no início da projeção é
particularmente sem graça).
Mas o principal problema é que o
filme não se sustenta como Cinema. Se durante mais de uma hora é possível se
divertir com o absurdo dos personagens, chega uma hora que isso não é mais
suficiente, e como a história que está sendo contada não tem absolutamente nada
de marcante, a reta final da projeção acaba sendo repetitiva e cansativa – algo
indesculpável em uma comédia.
Trazendo o humor ácido e
inteligente já característico do grupo, Contrato
Vitalício é um filme que diverte por um bom tempo, mas aborrece em sua reta
final. Consegue trazer coisas interessantes das esquetes, mas também mostra que
o Porta dos Fundos ainda tem um longo caminho para dominar a linguagem do
Cinema como dominam a do Youtube.
Regular. |
João Vitor, 3 de Julho de 2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
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