Não é fácil fazer um filme por
ano. Sendo assim, é surpreendente que Woody Allen, mesmo aos 80 anos, consiga
manter uma regularidade tão grande na carreira, que mesmo repleta de obras
feitas no “automático”, presenteia o Cinema com um ótimo filme a cada pelo
menos 3 anos. E agora, após os bons Magia
ao Luar (2014) e Homem Irracional
(2015), o diretor comanda seu trabalho mais fraco desde o mediano Para Roma Com Amor (2012), ainda que se
trate de um filme admirável por trazer elementos técnicos novos para uma
carreira já tão longa, mas que deixa a desejar em relação à estrutura e
temática.
Ambientado nos anos 30, o filme
segue o jovem Bobby (Jesse Eisenberg), que se muda de Nova York para Los
Angeles para viver com seu tio Phil (Steve Carell), um influente produtor na
indústria cinematográfica. Chegando já ele se apaixona por Vonnie, sem saber
que esta mantém um relacionamento secreto com seu tio, que é casado.
Recheado de momentos que só
poderiam mesmo ter sido escritos por Woody Allen, como a cena que envolve uma
discussão entre o protagonista e uma garota de programa, ou então frases como
“A vida é um comédia escrita por um comediante sádico” ou “Pena que a religião
judaica não acredita em um pós-morte, eles teria bem mais clientes”, o roteiro
até cria um conflito principal interessante (mesmo que bastante familiar em
relação aos outros filmes de Allen), mas se prejudica muito por sua estrutura.
Em sua primeira metade,
ambientada quase toda em Los Angeles, o filme perde muito tempo em uma subtrama
dispensável envolvendo um irmão do protagonista, que por mais que gere
reflexões interessantes (principalmente sobre como a religião é utilizada para
aliviar as dificuldades da vida), acaba funcionando muito mais como uma maneira
de tirar o foco da trama principal. Já a segunda parte, passada em Nova York, tem
seus momentos inspirados, mas peca por se estender demais, mesmo após a
resolução do conflito principal, e o que era para ser apenas um breve epílogo
vira um longo e cansativo capítulo final.
Mas dito isso, Woody Allen merece
muitos créditos por se preocupar em mesmo com uma história convencional, trazer
elementos até então inéditos em sua carreira. O principal destaque, obviamente,
fica por conta da belíssima fotografia de Vittorio Storaro (responsável por
obras-primas como Apocalipse Now),
que não só evoca de maneira brilhante o espírito dos anos 30, como ainda cria
um belo contraste entre as cores cinzas e dessaturadas de Nova York e as cores
quentes, que parecem iluminadas por luz solar, de Los Angeles.
O elenco também não decepciona.
Kristen Stewart consegue ser doce mesmo quando não concordamos com suas
decisões, e Jesse Eisenberg se mostra completamente à vontade ao encarnar a já
tão conhecida persona de Woody Allen, cheia de maneirismos neuróticos. E Steve
Carell, ator de quem sou um enorme fã, traz um timing cômico impecável (a cena
que o traz tendo uma conversa secreta ao telefone é hilária!), mas deixa um
pouco a desejar ao ter que evocar o drama e os dilemas de seu personagem.
Mas mesmo sendo um filme
familiar, e até bastante irregular, Café Society tem suas peculiaridades, e não
deixa de ser uma boa diversão para quem, como eu, já é fã de Woody Allen, ainda
que eu espere que seu trabalho do ano que vem seja melhor.
Bom. |
João Vitor, 28 de Agosto de 2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
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