Meu Amigo Hindu é um filme que funciona muito bem como drama, mas
falha pela necessidade do diretor em homenagear a si mesmo, fazendo com que a
obra soe como algo pretensioso e aborrecido.
O roteiro escrito pelo próprio
diretor Héctor Babenco (responsável por um dos maiores clássicos do cinema
brasileiro, Pixote: A Lei do Mais Fraco)
conta sua autobiografia, focando no período em que lutou contra um câncer e
usou seu amor pelo cinema como arma para enfrentar a doença.
Pretensioso literalmente desde seu primeiro segundo, ao incluir um letreiro assinado pelo próprio diretor que diz que “conta a história da melhor maneira que sabe”, o filme tenta se estabelecer como uma homenagem ao cinema, mas logo se desenvolve para uma celebração da carreira e do caráter de seu protagonista – o que se torna um tanto quanto egocêntrico quando sabemos que o personagem é o próprio diretor.
Sem poupar sutilezas até no nome
de seu alter ego (que traz o sobrenome “Fairman” – “homem justo”), o diretor e
roteirista se esforça ao máximo para celebrar seu próprio talento e
integridade, trazendo seu personagem sofrendo pressão até do próprio pai e
irmão em nome da ganância. Mas aparentemente Babenco não percebe que enquanto
tenta se pintar como uma pessoa honesta e justa não consegue evitar que o
personagem soe completamente desagradável e antipático por conta de seu sexismo
escancarado – ainda que aqui o ótimo trabalho de interpretação de Willem Dafoe
compense um pouco, já que adiciona fragilidade ao personagem e consegue gerar
empatia no público.
Mas deixando de lado o
egocentrismo, o roteiro tem sim seus méritos. Além de alguns momentos
inspirados de humor (“Ele é um artista, não o incomode com política” diz um
personagem em certo momento), a iminência da morte surge de maneira palpável e
forte na trama, adicionando uma boa dose de melancolia. Além disso, a
referência ao clássico O Sétimo Selo surge
de maneira orgânica e equilibra muito bem humor com drama.
Por outro lado, ao se esticar
demais mesmo depois de o tratamento médico do personagem acabar, o filme soa
sem foco e acaba levando o espectador aos créditos finais bem mais cansado do
que deveria.
Já a parte técnica está
excelente. Como já demostrou ao longo de sua carreira, Babenco se mostra muito
eficaz em criar uma atmosfera triste e melancólica para a narrativa. Apostando
em uma trilha sonora instrumental discreta, que valoriza muito os sons
diegéticos (aqueles que os personagens também ouvem), o diretor constrói os
ambientes hospitalares como lugares opressores e claustrofóbicos. Além disso, a
fotografia cheia de cores frias reforça o sentimento impessoal das cenas que
acompanham o tratamento médico do protagonista, e as constantes sombras que
enchem o quadro ao longo da projeção podem ser interpretadas como a ameaça da
morte, que parece sempre à espreita.
Funcionando como drama, mas
falhando em sua pretensão e em sua necessidade de se homenagear, Meu Amigo Hindu é um filme regular, que
consegue comover em alguns momentos ainda que em outros provoque apenas tédio.
O.K |
João Vitor, 30 de Novembro de
2016.
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/
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