quinta-feira, 12 de junho de 2014

Crítica: O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, de Marc Webb


O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro

          Sequência é, em  todos os sentidos, melhor do que seu antecessor




Em 2012 surgia O Espetacular Homem-Aranha, filme que tentava resgatar a franquia que havia sido “morta” pelo péssimo Homem Aranha 3 (2007). Com a ideia de recomeçar a história com um tom mais realista e sombrio, ao mesmo tempo em que retratava um herói menos estereotipado e mais bem-humorado, o projeto tinha potencial para ser um sucesso. Porém, o que funcionava na teoria, não funcionou na prática, já que essas ideias deram origem a um filme de roteiro fraquíssimo, que não conseguia achar um tom apropriado para a narrativa, oscilando entre o sombrio e o engraçado sem fluência nenhuma, além de incluir uma subtrama absolutamente dispensável envolvendo o passado dos pais do personagem, e se limitar, em alguns momentos, a copiar ideias dos dois excelentes filmes dirigidos por Sam Raimi que deram início à franquia (Homem-Aranha – 2002; Homem-Aranha 2 – 2004), como nos momentos em que víamos o vilão da história desenvolver uma dupla personalidade, igual fazia o Duende Verde do filme de 2002, sem nenhum motivo aparente além de explicar o óbvio.

Marc Webb (diretor)
Dessa forma, é surpreendente constatar que sua continuação, O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, consiga tão facilmente determinar uma personalidade para o herói , criar uma trama interessante, e  finalmente decidir um tom para a narrativa, que apesar de soar muito engraçada, não fica menos séria por causa disso. E apesar de ainda possuir algumas falhas, e ficar consideravelmente abaixo dos dois primeiros filmes da série, esta continuação se mostra, no mínimo, absolutamente eficiente.

A trama se passa um pouco depois do término do último filme, nos mostrando um Peter Parker (Andrew Garfield) que adora ser o Homem Aranha, mas que encontra dificuldades em equilibrar as responsabilidades de herói com as necessidades pessoais. Tudo se complica ainda mais quando Harry Osborn (Dane DeHaan), um velho amigo, volta à cidade e um novo inimigo surge: Electro (Jamie Foxx).

Dirigido por Marc Webb (do competente 500 Dias com Ela e do fraquíssimo O Espetacular Homem-Aranha), o filme é feliz desde o início, ao mostrar claramente a diversão e a dedicação com que o protagonista combate o crime, ao mesmo tempo em que contrapõe essas responsabilidades com as necessidades pessoais do dia a dia, como o dever com tia May (Sally Field) e o namoro com Gwen (Emma Stone). E se as “aparições” do Capitão Stacy, presentes para lembrar o herói da promessa feita no filme anterior, soam um pouco forçadas, tampouco fazem feio.

Andrew Garfield (Homem-Aranha)
É interessante reparar também, como Andrew Garfield, beneficiado pelo bom roteiro, finalmente consegue tirar proveito de sua constituição física para criar um Peter Parker jovem, bem-humorado, mas responsável, e um Homem-Aranha que, com dedicação, se diverte cumprindo seu dever, desse modo, conseguimos
enxergá-lo como apenas um personagem, e não como um jovem sem personalidade que se transforma ao colocar uma máscara.

Ótimo também é o trabalho de Jamie Foxx (Ray, Django Livre) que, ao contrário de Rhys Ifans, que se limitava a imitar os trejeitos de William Dafoe para criar o vilão do primeiro filme, consegue fugir de estereótipos e fazer com que seu Electro soe ameaçador ao mesmo tempo em que conseguimos entender suas motivações. E por mais que sua mudança de ídolo para inimigo do Homem-Aranha seja um pouco radical e rápida demais, não deixa de ser bem retratada e bem interpretada.

Jamie Foxx (Electro)
E se um dos piores momentos do primeiro filme era seu clímax, pois deixava clara a superficialidade do roteiro, além de ser esticado e previsível, nesta continuação, o clímax não decepciona, sendo empolgante e tenso, e embora seu desfecho soe “fácil” demais, não fica menos coerente por causa disso.

A Fotografia também melhora muito em relação ao primeiro, deixando de lado o ar sombrio e apostando nas cores vivas, remetendo às histórias em quadrinhos e beneficiando muito o 3D, que aqui, em um raríssimo caso, não surge apenas como um modo de aumentar o preço do ingresso, e sim como uma contribuição à narrativa, já que Marc Webb não usa movimentos rápidos de câmera nas cenas de ação, e nem se limita a “atirar” objetos em direção ao espectador, deixando assim as cenas mais bonitas e empolgantes. E nesse aspecto esse novo filme dá um banho em seu concorrente de bilheteria: Capitão América 2: O Soldado Invernal , que tem um 3D não apenas descartável como prejudicial à algumas cenas, que utilizam cortes rápidos e movimentos bruscos de câmera, deixando assim o espectador confuso em relação ao que está acontecendo, além de sair do cinema com dor de cabeça.
Sally Field (Tia May)

Mas é claro que o filme também tem várias falhas, que não poderiam deixar de serem comentadas: além da já citada mudança brusca na personalidade do vilão, os objetivos deste se mostram um pouco confusos, e não conseguimos entender direito o que ele quer depois de conseguir sua vingança. Além disso, a subtrama envolvendo os pais de Peter, que já prejudicava o primeiro filme, volta a atrapalhar aqui, já que somos obrigados a deixar a trama principal de lado em determinado momento, para acompanharmos uma história desinteressante extremamente inconsistente, e quando finalmente descobrimos a verdade por trás do mistério, é impossível não lamentar os preciosos minutos perdidos que poderia ser usado em um melhor desenvolvimento para os vilões, ou simplesmente tirados do filme sem dano nenhum.

Dane DeHaan (Harry Osborn)
E por falar em vilões, não poderia deixar de comentar sobre o novo Duende Verde, interpretado por Dane DeHaan, que surge como um personagem relativamente interessante, que possui seus maus momentos, como quando o vemos pilotando um planador sem treino nenhum ou tentando controlar a Oscorp, mas também alguns bons momentos como o reencontro com Peter e, principalmente, sua participação no clímax no filme.

Já Gwen, surge como uma ótima maneira de humanizar o protagonista, trazendo um peso pessoal em seus desafios, o que já era um forte da série desde o filme de 2002. E tia May, apesar de funcionar, muitas vezes, apenas como apoio para os alívios cômicos do roteiro, representa também um forte apoio para Peter, principalmente nos momento que tratam sobre os pais do personagem.

Emma Stone (Gwen)
A trilha sonora do filme oscila entre o óbvio (nas cenas de drama e ação) e o criativo, como no tema do vilão e nos momentos em que surgem pequenos clipes de músicas para representar alguma passagem de tempo ou algo do tipo, o que já virou uma marca registrada de Marc Webb. Já o bullet time, empregado em algumas cenas de ação, se mostra extremamente eficiente para demonstrar os sentidos apurados do herói, além de deixar os acontecimentos mais compreensíveis, e nesses momentos, mais uma vez, a fotografia e o 3D contribuem significativamente.

Deixando ainda algum espaço para sutilezas (como as metáforas envolvendo relógios), O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro não só é um filme divertido e simpático, como levanta uma franquia que estava quase sendo dada como morta, proporcionando assim alívio e esperança para os fãs do herói no cinema. Só podemos agora ficar na torcida para que o próximo filme da série faça jus a seu antecessor, e consiga consertar as falhas restantes para que possamos desfrutar de uma franquia muito bem sucedida sobre super-heróis.

Muito Bom!

João Vitor, 12 de junho de 2014