sábado, 17 de setembro de 2016

Crítica: Aquarius, de Kleber Mendonça Filho

Aquarius, novo filme do diretor Kleber Mendonça Filho, é um filme recheado de momentos de encher os olhos de lágrimas, sejam de satisfação, melancolia ou felicidade. Com uma trama simples, mas de muita força emocional, o filme é mais do que uma história de resistência contra um sistema que visa o lucro acima de tudo, é também uma celebração das pequenas coisas belas que nos definem como seres humanos.

O roteiro escrito pelo próprio diretor, acompanha Clara (Sônia Braga), uma jornalista aposentada que luta contra os esforços de uma construtora que quer comprar seu apartamento para poder demolir o prédio e construir um centro comercial.

Com uma belíssima fotografia que, sempre cheia de cores quentes, reforça o sentimento de carinho entre os personagens, e uma trilha sonora que vai de Queen à Gilberto Gil, o filme se mostra sempre disposto a celebrar pequenos momentos prosaicos que emocionam por sua beleza e simplicidade, como o prazer de ouvir uma música querida em alto som, ou um coro de feliz aniversário em família. Além disso, o filme traz ainda um leve senso de humor peculiar que serve como um charme discreto e aumenta ainda mais a doçura da narrativa (e a cena que envolve um envelope em baixo de uma porta, logo no início, é hilária!).


Mas mesmo com uma trama simples e uma abordagem apropriadamente mais discreta que em seu filme anterior (o fantástico O Som Ao Redor), Kleber Mendonça Filho consegue brindar o espectador com uma narrativa altamente sofisticada, dividida em três partes que, ao invés de simplesmente quebrar a trama em começo meio e fim, servem para enriquecer o filme tematicamente (reparem bem nos nomes de cada capítulo).

O elenco é homogeneamente fantástico. Sônia Braga não apenas protagoniza o filme com segurança como ainda consegue incluir doçura até em gestos completamente cotidianos, como um cochilo na rede ou uma volta para casa depois de um passeio na praia. Humberto Carrão, por sua vez, foge completamente de um vilão caricatural, e consegue convencer como alguém detestável, mesmo que cordial. Já Maeve Jinkings traz uma bela fragilidade para sua personagem (filha da protagonista) e ainda comanda, junto com Sônia Braga, a cena mais forte emocionalmente de todo o filme.


Sendo politicamente consciente, mas acima de tudo humano, Aquarius é um belíssimo filme que prova mais uma vez que Kleber Mendonça Filho está entre os melhores diretores de sua geração. E não deixa de ser curioso ver que em determinado momento do filme alguns personagens dancem ao som de “Recife, Minha Cidade”, de Reginaldo Rossi, que em um de seus versos traz a frase “É um pedacinho do Brasil”, pois afinal, Aquarius também pode ser visto como um retrato do melhor lado da cultura brasileira, e em um momento político tão conturbado e desesperançoso, um pouco de afeto é muito bem-vindo.

Ótimo!


João Vitor, 17 de Setembro de 2017.