sábado, 15 de julho de 2017

Crítica: Homem Aranha: De Volta ao Lar, de Jon Watts

Como esta crítica já está atrasada, vamos direto ao ponto: “Homem Aranha: De Volta ao Lar” é um filme difícil de não gostar; apesar de alguns deslizes, consegue ser divertido, cumprir seu papel, e por alguns breves momentos se destacar de seus “colegas” de gênero de super-herói.



Há basicamente duas principais fraquezas no filme. Primeiro: ao precisar se encaixar no universo estendido da Marvel, é inevitável que o roteiro perca um pouco o foco na trama principal, além de utilizar de forma um tanto quanto preguiçosa o personagem de Tony Stark como “deus ex machina” para resolver situações muito difíceis. E segundo: o fato de contar com um diretor tão inexperiente como Jon Watts. Não que Watts seja um mal profissional, mas sua inexperiência com grandes produções (provavelmente uma estratégia do estúdio para obter maior controle criativo sobre o filme) fica evidente nas sequências de ação, onde os cortes rápidos e movimentos de câmera abruptos são apenas confusos, e na montagem que tenta ser ágil ao exagerar nos cortes até mesmo nas cenas mais calmas, criando um ritmo irregular que até mesmo desperdiça o potencial cômico de alguns bons momentos.

A trilha sonora instrumental também é irregular, já que é excessiva e intrusiva, mas nesse quesito o diretor se redime ao pelo menos demonstrar um bom timing para utilizar canções já famosas em momentos-chave.

Já o roteiro merece créditos por conseguir ganhar fôlego com um twist bem encaixado justo quando a trama parecia estar ficando cansativa. Além disso, o texto encontra ótimas piadas principalmente ao apostar em um senso de humor baseado no constrangimento do protagonista.

As referências aos filmes anteriores do herói também enriquecem a experiência e demonstram respeito sem diminuir sua própria importância: gosto particularmente da referência relativamente sutil envolvendo o “jovem clássico” beijo de ponta cabeça do primeiro filme de Sam Raimi de 2002, e também a rima visual com a imagem de Peter Parker parando um trem em “Homem Aranha 2” (2004), que aqui se reflete na imagem do herói tentando segurar um navio partido.


Sobre o vilão, é sempre bom ver um ator interessante e inspirado como Michael Keaton em ação; ainda assim, seu personagem não deixa de ser um pouco “funcional” demais, já que toda sua concepção parece claramente desenhada do começo ao fim para funcionar como trampolim para o herói em um primeiro filme de franquia, existindo apenas para tocar a trama para frente – o que não é um problema, claro, mas tampouco o destaca.

Exibindo uma interessante capacidade de rir de si mesmo em sua segunda cena pós-créditos, e apostando em um corte final divertido, que além de condizente com o restante do filme também foge do lugar comum de filmes de super-herói, “Homem Aranha: De Volta ao Lar” é um filme irreverente, competente e bastante divertido. Não deixa de ficar preso às convenções do gênero e de seu próprio universo cinematográfico, mas traz suficientes elementos interessantes para se sustentar sozinho e gerar curiosidade para eventuais (e inevitáveis) continuações.

Muito Bom!


João Vitor, 15 de Julho de 2017.