sexta-feira, 20 de maio de 2016

Crítica: Capitão América: Guerra Civil, de Anthony e Joe Russo

Ao longo dos últimos anos poucos filmes da Marvel puderam ser classificados como menos do que razoáveis ou bons, mas também poucos puderam ser chamados de originais (talvez apenas Guardiões da Galáxia e Capitão América: O Soldado Invernal). Este novo Capitão América: Guerra Civil não tem nada de original ou inovador, mas ao menos prova que “mais do mesmo” pode até ser cansativo, mas se for bem feito pode voltar a divertir.


Ambientado pouco tempo depois dos acontecimentos de Vingadores 2: A Era De Ultron, o filme tem início com mais uma ação dos heróis que resulta em tragédia, o que leva as Nações Unidas a propor um acordo que limita a liberdade dos Vingadores, fazendo-os agir como ferramenta de governo. Mas enquanto Tony Stark se mostra favorável à ação, Steve Rogers não a aceita, o que eventualmente resultará em conflito entre ambos.

Talvez o principal mérito do filme seja humanizar as tragédias vistas nos filmes anteriores, dando alma a algo que até então era apenas um show de efeitos visuais. E justamente por isso, as motivações de todos os personagens ficam plausíveis e o roteiro foge da unidimensionalidade, deixando o espectador refletir e se identificar com todos os lados – entendemos a culpa de Tony Stark por todas as mortes que ele não pôde evitar, mas também entendemos a relutância de Steve Rogers, pois afinal, ele já foi usado como ferramenta de governo em seu primeiro filme e isso não acabou bem.

A direção é dos irmãos Anthony e Joe Russo (também responsáveis pelo ótimo Capitão América: O Soldado Invernal) e sua principal virtude são as cenas de ação. Mesmo que abusem de câmera tremida (o que também prejudica o 3D) e repitam algumas coreografias (em vários momentos, por exemplo, vemos personagens despencando de algum lugar alto batendo em diversos obstáculos até chegar ao chão), os diretores acertam por não exagerarem na dimensão dos conflitos (nada de prédios despencando e aviões caindo a todo o momento) deixando a ação mais crível, e sempre trabalhando muito bem a mise-en-scène, deixando claro o que cada personagem está fazendo e onde – também fazendo um uso eficiente e inventivo dos poderes e habilidades de cada um deles.


Como não poderia deixar de ser, o filme se prejudica um pouco pelo excesso de personagens, mas ao menos não se perde incluindo muitas subtramas. Dentre os personagens novos, os que mais se destacam é o Pantera Negra e, é claro, o Homem Aranha. E o fato de eles funcionarem tão bem até empalidece um pouco o fato de eles serem jogados na trama completamente do nada. E enquanto o Pantera Negra é o responsável pela minha sequência de ação preferida do longa, o Homem Aranha protagoniza seus momentos mais engraçados – e a referência que ele faz à um clássico do Cinema (não revelarei qual para não estragar a surpresa) é talvez o momento mais inspirado do roteiro. Aliás, destaque para o designe do uniforme do personagem, que o deixa com aparência juvenil e descontraída, ao mesmo tempo em que podemos perceber suas expressões (reparem nas mudanças no tamanho de seus olhos).


O elenco também está bem, ainda que um pouco irregular. Enquanto Tom Holland se diverte bastante como Homem Aranha, Daniel Bhürl (dos excelentes Adeus Lênin, Bastardos Inglórios e Rush) pende para a caricatura com seu vilão que só fala com a voz sussurrada e com uma expressão ameaçadora (ainda que o roteiro acerte em tornar suas motivações plausíveis). Já Robert Downey Jr. mais uma vez não traz nada de novo em sua interpretação no automático de Tony Stark, mas pelo menos seu personagem desta vez tem uma interessante e bem vinda complexidade dramática, e não se resume apenas a um alívio cômico.

Mas o filme também não deixa de ter sua boa dose de defeitos. O tom da primeira hora de projeção é estabelecido como sendo completamente melancólico e pesado, apenas para de uma hora para outra (com a entrada do Homem Aranha e Homem Formiga) passar a ser completamente engraçado e com piadas a cada minuto, e após o fim da principal sequência de ação do filme, o tom volta a ficar pesado e melancólico. Vale dizer que o clima de tensão criado é muito eficiente, e boa parte das piadas também funcionam, mas o problema é que a transição de um tom para outro é feita sem fluência nenhuma e sem qualquer justificativa narrativa (a sequência cheia de humor só está lá porque é o que se espera de um filme da Marvel).

Além disso, em questão de estrutura o filme se prejudica bastante por trazer seu principal combate faltando mais de meia hora para o fim da projeção, o que faz com que toda a sequência final se torne muito mais cansativa do que deveria, e os créditos finais sejam recebidos até com certa dose de alívio (a duração de duas horas e meia também não ajuda), principalmente porque o desfecho se acovarda ao não modificar completamente o universo criado até ali quando tem a chance – fazendo com que a tendência para o próximo filme seja de novo ser mais do mesmo.

Sendo um filme que vale o ingresso e diverte mesmo sendo cansativo, Capitão América: Guerra Civil mostra que a Marvel ainda tem medo de arriscar novos caminhos, mas cumpre seu papel sendo um bom filme que prova que “mais do mesmo” pode ser satisfatório quando bem feito.

Bom!

João Vitor, 28 de Abril de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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