sábado, 14 de maio de 2016

Crítica: O Conto dos Contos, de Matteo Garrone

“O Conto dos Contos” é um filme que mesmo com uma estrutura irregular acaba valendo muita a pena devido à sua originalidade e sua capacidade de equilibrar fantasia, suspense e comédia.


O roteiro acompanha três histórias de fantasia medieval simultaneamente: a primeira acompanha um casal de reis (John C. Reilly e Salma Hayek) que tentam vencer a esterilidade com um ritual envolvendo um monstro marinho; a segunda envolve outro rei (Toby Jones), sua filha prestes a se casar e uma pulga gigante; e a última também acompanha um rei (Vincent Cassel), que se apaixona por uma bela voz sem saber que esta pertence a uma velha.

Contando sua história muito mais através de imagens e construção de atmosfera do que de diálogos (o que pode incomodar os espectadores mais impacientes), o filme consegue ao mesmo tempo ser uma grande produção hollywoodiana de época, mas também uma obra mais pessoal, apostando em um senso de humor peculiar e uma atmosfera sombria.


Toda a parte técnica é impecável. O uso de locações dá ao filme uma grande tangibilidade (destaques para a cena passada no terraço do castelo e outra passada em um labirinto de pedra), e o designe de produção é eficiente em criar um universo fabulesco, que traz ao mesmo tempo o exagero e o glamour característicos das cortes medievais, e também interessantes toques sombrios com um peculiar senso de humor. Já a trilha sonora, além de utilizar constantemente instrumentos característicos da época, se equilibra apropriadamente entre o fantasioso e o sombrio.


O elenco também merece créditos, principalmente por não se renderem a caricaturas e convencerem mesmo interpretando personagens que se encaixariam em contos de fadas unidimensionais.

O único problema do filme é mesmo sua estrutura. Ao contar suas histórias praticamente paralelas ao mesmo tempo, o diretor impede um envolvimento maior por parte do espectador, pulando de uma trama para outra sem fluência alguma (e o fato da projeção durar mais de duas horas agrava o erro), além de não encontra um desfecho satisfatório para nenhuma delas. Talvez o formato de antologia (contando uma história de cada vez) pudesse ter funcionado melhor.



Tendo ainda diversos momentos marcantes (a cena que envolve um mostro marinho e outra que traz uma corda bamba sobre um precipício são minhas favoritas), “O Conto dos Contos” pode até se prejudicar pela sua estrutura, mas pelo seu universo peculiar consegue se estabelecer como um filme muito competente e acima de tudo original.

Muito Bom!

João Vitor, 14 de Maio de 2016.

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