segunda-feira, 21 de março de 2016

Crítica: Zoolander 2, de Ben Stiller

Após iniciar sua carreira como diretor com a bela comédia dramática Caindo na Real (1994), o ator Ben Stiller comandou outros alguns outros trabalhos de qualidades variáveis, dentre eles o desastroso e sem graça O Pentelho (1996), o divertidíssimo Trovão Tropical (2008) e o bonitinho e melancólico A Vida Secreta de Walter Mitty (2013). Mas talvez seu maior sucesso (não necessariamente o melhor) tenha sido a comédia Zoolander (2001), que por mais que falhasse em suas principais tentativas de fazer rir, ao menos funcionava como uma divertida sátira do mundo da moda.

Agora, quinze anos depois, Stiller volta a reunir boa parte do elenco original para esta continuação, que assim como seu antecessor volta a falhar em suas piadas, mas consegue satirizar o mundo da moda e o gênero Ação de maneira divertida e competente.


A história é a seguinte: após uma série de celebridades serem assassinadas, a agente policial e ex-modelo de biquíni Valentina Valencia (Penélope Cruz) busca o ex-supermodelo Derek Zoolander (Ben Stiller) para ajudá-la a solucionar os casos. Há também uma subtrama que envolve o filho do Zoolander, mas que não é importante (ainda que o filme acerte por não leva-la a sério demais).


Como já apontei dois parágrafos acima, o maior mérito do filme está em sua sátira. É interessantíssimo como ele brinca com diversos clichês de gêneros, como a famosa frase “God help us all” diante de uma ameaça, ou então ao trazer os personagens andando em câmera lenta em direção à câmera antes de uma sequência de ação. Além disso, o momento que brinca com o clichê da máscara que possibilita uma pessoa se passar por outra (tão usada em série como James Bond e Missão Impossível) é possivelmente o momento mais inspirado do longa, e de longe o mais engraçado.

Aliás, momentos inspirados são o que mais faltam a este filme. Apesar de algumas exceções, como aquele envolvendo uma faca no terceiro ato, as piadas do roteiro se mostram extremamente fracas e sem graças, se limitando a tentar arrancar o riso através do exagero e demostrando muitas vezes uma incrível falta de timing e sutileza. Sem contar que se formos comparar com o Zoolander anterior, veremos que nenhum momento desta continuação se compara àquele que envolvia uma referência ao clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) – e que se torna ainda mais interessante quando consideramos que o próprio filme foi feito no ano de 2001.


Em relação ao elenco, vale dizer que Owen Wilson está muito bem, com um timing cômico afinado, e sendo o responsável por alguns dos melhores momentos da obra. Mas o maior destaque fica mesmo por conta das participações especiais – enquanto Benedict Cumberbatch está divertidíssimo em seus poucos segundos de tela, Will Ferrell mostra mais uma vez que é um dos melhores comediantes de sua geração e praticamente rouba todo o ato final.

Já Ben Stiller, que tem a tarefa de ser o protagonista, falha feio em suas tentativas de humor e ainda erra por soar repetitivo. Surgindo sempre com os olhos arregalados e uma expressão passiva meio assustada (que supostamente deveria ser engraçada), o ator não consegue gerar uma risada sequer no espectador e desperdiça todo seu potencial (vale dizer que Stiller é ótimo em comédias de constrangimento, como Duplex e Entrando Numa Fria, além de saber também fazer drama, tendo um interessante senso de humor melancólico já mostrado em filmes como Enquanto Somos Jovens e A Vida Secreta de Walter Mitty).


Mas já como diretor Ben Stiller se mostra bem mais competente, brincando com a estética de filmes de espionagem, e empregando com seguranças clichês para fazer humor – como com a trilha sonora exageradamente grandiosa, ou ao trazer zoons que mergulham nos olhos dos personagens. Além disso, é interessante como a fotografia traz diversas luzes coloridas e constantes flashes em direção à lente, o que remete aos vários desfiles de moda vistos no primeiro filme.

Pecando ao se estender demais em seu clímax, o que faz com que os créditos finais sejam encarados com alívio pelo espectador (ainda que a piadinha no final envolvendo o Sting funcione pelo nonsense e seja uma das melhores de todo o roteiro), Zoolander 2 não é particularmente engraçado, mas isso não significa que seja um desastre. É um filme que, assim como seu antecessor, acerta por não se levar a sério e funciona como uma divertida sátira tanto aos gêneros de Ação e Espionagem quanto ao mundo da moda em si.

Regular.

João Vitor, 21 de Março de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário