quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Crítica: Era Uma Vez em Nova York, de James Grey

Era Uma Vez em Nova York é um daqueles filmes em que tudo funciona: desde as atuações impecáveis, até o impressionante designe de produção, o novo longa metragem de James Grey é, praticamente, perfeito.


Ambientado em 1921, a trama segue Ewa (Marion Cotillard) que é uma imigrante polonesa recém-chegada à América, e que depois de ter a irmã detida na Imigração devido à doença, acaba por se ver sozinha em uma cidade violenta e imprevisível. Nesse contexto entram ainda Bruno (Joaquin Phoenix), um cafetão que tenta ajudar a moça, e Orlando (Jeremy Renner), um ilusionista que acaba se apaixonando por ela e tem que lidar com o ciúme de Bruno.

A primeira coisa que chama a atenção no filme é o seu visual. O designe de produção recria com maestria os figurinos e, principalmente, o interior apertado e quente das casas da época, e a fotografia de Drius Khondji acaba por dar a tudo um tom esfumaçado, que faz com que inúmeras imagens ao longo da projeção sejam dignas de se pendurar em um quadro.

As atuações também merecem destaque, Marion Cotillard cria uma protagonista conflituosa e insegura, enquanto Joaquin Phoenix transforma seu personagem em uma figura acolhedora, ainda que violenta e imprevisível – e a cena em que ele confronta a protagonista, após esta praticar um pequeno furto, não apenas é uma aula de interpretação, como também impacta o espectador mostrando do que aquele personagem é capaz.


O roteiro, escrito por James Grey e Ric Menello, acerta em não incluir demasiados personagens secundários descartáveis, e construir o drama dos protagonistas de maneira direta e consistente, mesmo que erre por um ou outro exagero – a maneira como a personagem de Marion Cotillard repete constantemente coisas como “não mecha no meu dinheiro” ou “preciso de dinheiro pela minha irmã”, é particularmente descartável e representa um deslize em um trabalho que em outros aspectos é perfeito.


Já a direção de James Grey não erra em momento algum, trazendo uma excelente direção de atores, e uma invejável maturidade ao se manter corretamente discreto nos dois primeiros atos da projeção, deixando o destaque para o roteiro e o talento dos intérpretes. Já na transição para o terceiro ato, Grey demonstra um impressionante controle de tensão ao criar uma cena quase que insuportável de se assistir (no melhor dos sentidos, é claro), e a partir daí se dar a liberdade de criar uma narrativa muito mais rápida e tensa, com diversos momentos inesquecíveis – destaque para a perseguição passada nos esgotos da cidade, onde o cineasta não apenas cria uma cena empolgante, como ainda uma imagem extremamente marcante ao enquadrar um espancamento em contraluz.

Como um todo, Era Uma Vez em Nova York se mostra um filme único, completo, e extremamente competente, que traz atuações marcantes em um drama consistente, e ainda brinda o espectador com um plano final espetacular, que não apenas fecha a história no momento exato, como consegue ser relevante tanto estética quanto tematicamente.

Excelente!

João Vitor, 25 de Fevereiro de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário