domingo, 23 de outubro de 2016

Crítica: A Lenda de Tarzan, de David Yates

A Lenda de Tarzan é uma história desnecessária contada suficientemente bem para gerar uma boa diversão. O filme se passa depois dos acontecimentos já conhecidos dos outros filmes do Tarzan, e começa acompanhando o personagem título (Alexander Skarsgard) e sua esposa Jane (Margot Robbie) em suas vidas de classe alta na Inglaterra, mas que são levados a voltar para a África para investigarem uma suposta exploração de trabalho escravo. O que Tarzan não sabe é que se trata de uma armadilha montada pelo capitão Leon Rom (Christoph Waltz) para entregá-lo para um chefe de tribo que deseja vingança.



 A direção do filme é do britânico David Yates, responsável pelos últimos quatro filmes da saga Harry Potter (todos ótimos), e o que é mais interessante em seu trabalho aqui é justamente como ele inclui suas marcas registradas: muito uso de lente grande angular, slow motion, primeiríssimos planos dos rostos dos atores ou de detalhes do cenário, etc. O que prova que ele teve liberdade na hora de trabalhar, e ainda gera uma dose de nostalgia nos fãs de Harry Potter, o que é muito bem-vindo.

Por outro lado, vale dizer que Yates demonstra não ter a mínima ideia de como utilizar a tecnologia 3D, já que isso o obriga a quebrar a lógica narrativa do filme (como ao incluir no meio das cenas de ação planos em primeira pessoa que parecem saídos de vídeo games), sem contar que o uso constante de cortes rápidos e câmera tremida, somados à fotografia completamente dessaturada, quase invalidam por si só a terceira dimensão.


E se o trabalho de CGI faz um trabalho impressionante ao dar alma aos animais digitais (algo importantíssimo para o desenvolvimento dramático do filme, já que a relação que estes possuem com Tarzan é um dos pilares do roteiro), também peca pelo exagero nas cenas de ação (como na cena que envolve um trem em alta velocidade), ao transformar os atores em bonecos digitais sem vida e indestrutíveis, deixando a tensão artificial e tirando o espectador da imersão do filme.



Já o roteiro se prejudica por perder muito tempo no excesso de politicagens da trama, o que deixa o ritmo um pouco arrastado em alguns momentos e ainda tira o foco do que deveria ser o centro da história (o próprio Tarzan), além disso, o desfecho da trama política é o mais óbvio e conveniente possível. Por outro lado, o conflito entre Tarzan e o chefe de tribo que quer sua cabeça, mesmo formulaico, move bem o filme, ainda que – mais uma vez – tenha um desfecho bastante conveniente.

Em relação ao elenco, Alexander Skarsgard, mesmo a princípio não sendo uma boa escolha para o papel de Tarzan, se sai surpreendentemente bem, convencendo pela imponência física, mas também sendo capaz de demostrar fragilidade humana, o que o torna carismático e de fácil identificação para o espectador. Já Margot Robbie, como Jane, conquista pela doçura, além de ser muito expressiva e demonstrar um comprometimento total para o filme, sendo interessante também como o roteiro brinca com o clichê de “donzela em perigo” – ainda que não o evite totalmente.


Christoph Waltz, por sua vez, não traz muita coisa nova em seu vilão, afinal, já á a milésima vez que o ator interpreta esse estereótipo, mas ele o faz tão bem que isso quase não importa, além disso, o ator se diverte imensamente ao mesmo tempo em que convence como uma ameaça.


O mesmo acontece com Samuel Jackson, que mesmo se repetindo, se sai muito bem como alívio cômico do filme, ainda que se prejudique um pouco pela completa falta de timing do roteiro em alguns momentos (a cena que envolve uma piada com os testículos de um gorila é particularmente embaraçosa).

Se beneficiando de um bom elenco e um diretor interessante marcado por uma série ótima, A Lenda de Tarzan é uma história bobinha que não precisava existir, mas que é contada bem o suficiente para não parecer perda de tempo e ainda conseguir ser bem divertida.

O.K.

João Vitor, 1º de Agosto de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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