domingo, 23 de outubro de 2016

Crítica: A Quinta Onda, de J. Blakeson

“A Quinta Onda” é um filme que você começa pensando que pode ser bom, e termina sabendo que não pode ficar pior. Pode parecer exagero, mas este novo trabalho do diretor J. Blakeson não acerta em nada.


 Desde os primeiros minutos o longa já deixa claro que não vai ser original (aliens que invadem a Terra para roubar recursos naturais, protagonista adolescente que é apaixonada por um garoto popular...), mas isso não necessariamente significa que ele seria ruim. “Corrente do Mal” e “Jurassic World”, ambos do ano passado, são dois exemplos de filmes clichês, mas extremamente eficientes.

O problema é que “A Quinta Onda” é tão preguiçoso que nem se esforça em brincar com seus clichês e nem sequer percebe o potencial da premissa que tem em mãos (até mesmo a questão de como o ser humano é pior que os aliens é resumida em – não estou exagerando – uma linha de diálogo).


Mesmo com o plot completamente batido ainda seria possível o filme criar pelo menos algumas sequências interessantes, mas mais uma vez, ele é estúpido demais até para pensar nisso, já que inclui até mesmo o clichê de um personagem correndo com a mão esticada atrás de um carro que leva uma pessoa querida.

Como se não bastasse, o roteiro ainda apela para a velha tática preguiçosa e expositiva de trazer a protagonista escrevendo um diário para passar as informações que o espectador precisa saber, e ainda faz questão de incluir um triângulo amoroso completamente gratuito para tentar aumentar seu apelo para o público jovem (vida os recentes sucessos de séries como “Crepúsculo” e “Jogos Vorazes”).

A direção de J. Blakeson também não ajuda, sendo incapaz de criar tensão (tendo que apelar para sustos fáceis para tentar se validar como “suspense”) e demonstrando um total desconhecimento de como dirigir as sequências de ação, já que além de abusar da câmera tremida, ele ainda mantém o quadro constantemente fechado nos rostos dos atores, o que não dá ao espectador a dimensão grandiosa do que está acontecendo.

A parte técnica também não se salva. A trilha é repetitiva na ação e melodramática nas cenas que deveriam ser intimistas, e o trabalho de mixagem de som é pavoroso, fazendo com que a música e os diálogos sejam completamente inaudíveis durante as sequências de ação.

Em relação ao elenco, é preciso dizer que Chloë Grace Moretz protagoniza o filme com segurança, ainda que obviamente seja muito prejudicada pelo péssimo roteiro. Já Liev Schreiber (ator que já elogiei imensamente em meu texto sobre Spotlight) nada pode fazer com seu personagem, que o extremo da caricatura do militar durão (e as cenas que o trazem fazendo discurso são particularmente embaraçosas).


E se o filme parece que vai ficar interessante por um breve momento, ao incluir uma reviravolta que poderia dar uma camada de profundidade à trama (em relação à mecanização do militarismo), é só para um minuto depois deixar esse potencial completamente de lado e voltar a apostar em seus velhos clichês.

Enfim, mesmo com todos seus clichês, é necessário reconhecer que o filme tem uma coisa única: ele tenta ser um drama familiar, um romance adolescente, um filme catástrofe, um suspense alienígena... e consegue ser ruim em todos.


Ruim.

João Vitor, 23 de Janeiro de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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