terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Crítica: Sicario: Terra de Ninguém, de Denis Villeneuve

Para mim já não há mais dúvidas de que Denis Villeneuve é uma das melhores coisas (se não a melhor) a acontecer no cinema nos últimos anos. Desde que chamou a atenção em 2009 com o ótimo “Polytechnique” ele conseguiu um feito inacreditável: fazer três obras-primas seguidas – “Incêndios” (2009), “Os Suspeitos” (2013) e “O Homem Duplicado” (2014). E agora ele acaba de adicionar mais um trabalho perfeito para sua invejável lista: este novo e excelente “Sicario: Terra de Ninguém”.


Ambientado na sempre tensa fronteira entre Estados Unidos e México, o roteiro acompanha uma agente do FBI (Emily Blunt) que se voluntaria para uma operação da CIA para derrubar um chefe de cartel mexicano.

Extremamente violenta desde seus primeiros minutos (ao trazer dezenas de cadáveres ensacados e ensanguentados escondidos dentro das paredes de uma casa), a narrativa nunca deixa dúvidas quanto ao seu tom pessimista e tenso.

Fotografado pelo sempre brilhante Roger Deakins, o filme é de uma beleza plástica absurda. Em muitos momentos lembrando seu trabalho no excepcional “Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007), Deakins consegue criar inúmeras pinturas – como os planos em contraluz durante o pôr-do-sol.


Já a trilha sonora é de Jóhann Jóhannsson, que prova sua versatilidade ao trazer músicas que em nada lembram seu último trabalho (no belo “A Teoria de Tudo”). Apostando diversas vezes em um ruído grave constante muito influenciado pelos últimos trabalhos de Hans Zimmer (em filmes como “A Origem” e “Batman – O Cavaleiro das Trevas”), o compositor consegue passar a tensão e a ameaça eminente experimentada pelos personagens.


Mas mesmo com músicas impecáveis, é interessante que o filme se arrisque e construa momentos incrivelmente tensos utilizando apenas sons diegéticos (aqueles feitos pelos próprios personagens), como na cena envolvendo um interrogatório – fazendo por merecer sua indicação ao Oscar de Melhor Edição de Efeitos Sonoros.

Aliás, mais uma vez é necessário aplaudir a eficiência de Denis Villeneuve para dominar o espectador e deixa-lo completamente tenso. Enquanto muitos diretores optariam por trazer as sequências de ação o quanto antes na trama, ele se mostra muito mais contido e se sai muito bem.

Ao acompanharmos os personagens quando estes estão indo fazer uma operação perigosa, por exemplo, seria fácil para o diretor ir diretamente para as trocas de tiros e explosões, mas o que ele faz é subverter as expectativas do espectador ao prolongar ao máximo o desconforto e a inquietação da protagonista, com longos planos aéreos (que aumentam a imponência e a ameaça da situação) e outros que a acompanham dentro do carro. Assim, quando os personagens se veem presos em um engarrafamento com uma ameaça eminente, o espectador já está completamente tenso e imerso na narrativa.


Vale dizer também que essa sequência passada em um engarrafamento é uma das melhores coisas do cinema nos últimos anos, e por si só já deveria valer para o filme uma indicação ao Oscar de Melhor Montagem (o que infelizmente não aconteceu).

As atuações também não deixam nada a desejar. Emily Blunt protagoniza o filme com cuidado e dedicação, convencendo ao trazer o arco dramático mais forte da narrativa. Já Josh Brolin tem a chance de trazer um leve timing cômico para seu personagem, que parece já ter ficado imune a tanta violência depois de anos de experiência.

Mas quem realmente rouba a cena é Benicio Del Toro. Surgindo desde o início com o olhar cansado, que passa sua experiência e seu pessimismo, ele se mostra o personagem mais interessante e complexo do filme (mesmo sendo coadjuvante), tendo ainda a chance de protagonizar aquela que é provavelmente a melhor cena do longa (que envolve um chefe de cartel em um jantar – você reconhecerá quando ver).


Surpreendendo ao trazer uma impressionante complexidade dramática em seu terceiro ato e um desfecho poderoso (que inclusive lembra muito o final do clássico “Chinatown”, de 1974), “Sicario” é uma experiência envolvente e inesquecível, que ainda consegue levar o espectador emocionado para os créditos finais, e fazê-lo ansiar desesperadamente pelo próximo trabalho de Denis Villeneuve.

Excelente!

 João Vitor, 8 de Fevereiro de 2016.

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