segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Crítica: Um Bom Ano, de Ridley Scott

Poucas vezes eu vi um filme tão ruim quanto este “Um Bom Ano”. Trata-se de uma obra desagradável sobre um personagem mais desagradável ainda, e que ainda acredita que tem algum potencial cômico, torturando o espetador por suas quase duas horas de duração.


O roteiro escrito por Peter Mayle e Marc Klein acompanha o bem sucedido Max (Russell Crowe), que após a morte de seu tio herda um vinhedo onde passou parte de sua infância. Após viajar para o local com a intenção de vendê-lo, ele começa a descobrir novos prazeres na vida calma do campo.


Tendo em vista que o diretor é o Ridley Scott (diretor conhecido por abordagens mais melancólicas), seria de se esperar que o filme fosse um drama sensível sobre a relação entre um tio e um sobrinho ou algo do tipo, mas o que o filme faz é o contrário: deixando o drama quase que completamente de lado, os roteiristas e o diretor investem em uma narrativa cômica, o que não seria um problema se eles ao menos tivessem a mínima noção sobre timing.



Chega a ser ridículo que o diretor responsável por uma obra-prima como “Blade Runner” seja capaz de incluir em um trabalho seu alívios cômicos tão ridículos, tais como um cachorro fazendo xixi na perna de alguém, ou uma fala como “Sua bunda era mais bonita antes” (dita pela empregada ao ver Max após um tempo), ou então simplesmente trazendo personagens com sotaques estrangeiros carregados (como se por algum motivo isso tornasse suas falas automaticamente cômicas).

Além disso, Ridley Scott se mostra aqui um péssimo diretor de atores (o elenco tem nomes como Russell Crowe, Albert Finney, Marion Cotillard e Abbie Cornish, e nenhum deles está bem). E como se não fosse o bastante, o diretor ainda demostra não saber nada sobre comédia, ao apostar em cenas que supostamente deveriam ser engraçadas simplesmente pelo fato de terem sido filmadas em câmera acelerada (como aquelas que envolvem o protagonista tendo dificuldades com seu carro alugado).


Igualmente decepcionante é ver um ator do nível de Russell Crowe fazendo um papel tão estúpido e sem graça. Surgindo completamente desagradável e incapaz de incluir o mínimo carisma em seu personagem, Crowe ainda demonstra uma total falta de timing cômico e incapacidade para o humor físico (e a cena que o traz em uma piscina cheia de terra e outra em que ele sai correndo assustado por um escorpião estão entre as piores do longa e também entre as mais estúpidas que eu já vi até hoje).

E se isso tudo ainda não fosse o suficiente, o filme ainda se mostra completamente machista, retratando as personagens femininas como verdadeiros objetos sexuais (chegando ao cúmulo de trazer a personagem de Marion Cotillard levantando sua saia no meio da rua para mostrar seus machucados na perna), e até mesmo a bela fotografia (que cria um interessante contraste entre as cores quentes do campo e a frieza mecânica da cidade) acaba sendo desperdiçada, já que não condiz com as tentativas de comédia do roteiro, servindo mais para uma narrativa dramática.

Sendo ainda completamente previsível e artificial em seu desfecho, “Um Bom Ano” é um desastre completo, sendo incapaz de gerar empatia com seu protagonista desagradável (e não é à toa que esta já é a quarta vez que uso essa palavra) e falhando em todas suas tentativas de fazer comédia – e o fato de ter na direção um nome tão forte como Ridley Scott só torna o desastre ainda mais lamentável.

Ruim.

João Vitor, 15 de Fevereiro de 2016.

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