sábado, 31 de dezembro de 2016

Crítica: O Lar das Crianças Peculiares, de Tim Burton

Ao longo de sua prolífera carreira, Tim Burton realizou apenas um filme que pode ser classificado como obra-prima (Edward Mãos de Tesoura, 1990), e apenas um que pode ser chamado de desastre (Planeta dos Macacos, 2001), conseguindo entre os outros títulos manter uma interessante regularidade e estabelecer uma estética própria bastante característica que, compreensivamente, o levou à fama.  E este seu novo trabalho, O Lar das Crianças Peculiares é possivelmente sua melhor obra desde o excelente Sweeney Todd (2007), sendo um filme irregular e longo, mas adorável.


O roteiro de Jane Goldman, adaptado do livro de Ransom Riggs, segue o jovem Jake (Asa Butterfield) que, após a morte misteriosa de seu avô, parte para o País de Gales com seu pai e lá descobre uma fenda temporal onde se encontra um orfanato para crianças dotadas de poderes especiais.

A maior força do filme está em seu cativante universo e mitologia, que caem como uma luva no estilo de filmagem de Tim Burton. Se equilibrando muito bem entre o infantil e o terror (reparem como as caracterizações das “crianças peculiares” têm um charme inocente e uma ameaça macabra ao mesmo tempo), o filme ainda tem sequências de ação muito bem coreografadas e divertidas (destaque para a cena que envolve esqueletos guerreiros), embora eventualmente alguns confrontos pareçam “fácil demais” em relação à ameaça estabelecida até então.


Mas mesmo com um universo particular e interessante, o roteiro tem sua dose de defeitos. O protagonista é completamente sem personalidade, e isso acaba sendo um grande problema quando o filme tenta dar peso dramático em sua relação com seu avô. Além disso, o personagem é constantemente utilizado como muleta para diálogos expositivos, surgindo em cena quase sempre fazendo perguntas e mais perguntas sucessivamente. Por outro lado, os personagens secundários são, em sua maioria, muito interessantes, e quando surgem utilizando seus poderes em conjunto o filme encontra seus melhores momentos (e aqui é impossível evitar a comparação com a série X-Men).

No elenco temos Asa Butterfield vivendo com inexpressividade o protagonista, que por sua vez já não é tão interessante assim, e Eva Green como a líder do orfanato, que acerta por ser esquisita sem ser caricata. Já Samuel Jackson, que vive o vilão, se prejudica um pouco por demorar a aparecer, mas consegue se divertir imensamente e ser ameaçador ao mesmo tempo (e o trabalho de efeitos visuais mais uma vez merece créditos pela caracterização das criaturas vilanescas que são completamente assustadoras sem que para isso precisem quebrar a lógica estética do restante do filme).


Tendo uma ótima mitologia e personagens que superam as fragilidades do roteiro, O Lar das Crianças Peculiares é diversão de primeira e um dos melhores trabalhos recentes de Tim Burton. Está longe de ser uma obra prima, mas vale o ingresso.

Bom!

João Vitor, 22 de Outubro de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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