quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Crítica: Snowden, de Oliver Stone

“Você não precisa concordar com os políticos para ser um patriota”. Esta frase, dita por um personagem durante o filme Snowden, é perfeita para definir a carreira do diretor Oliver Stone. Vencedor de dois Oscars e mundialmente renomado, o diretor investiu seus filmes em estudar a história americana (a guerra do Vietnam em Platoon; o assassinato de Kennedy em JFK; a trajetória do presidente Bush em W; a exploração da violência pela mídia sensacionalista em Assassinos por Natureza; e tantos outros), mas sem que para isso precisasse adotar uma visão ufanista cega (tão comum entre americanos), não hesitando em retratar e criticar absurdos cometidos em nome de seu país, já que afinal, essas ações são feitas por pessoas e não pelo país em si.


Sendo assim, ninguém melhor que ele para dirigir uma biografia de uma figura tão controversa e dita “anti-patriota” como Edward Snowden (responsável por vazar informações sigilosas sobre o serviço secreto de espionagem ilegal praticado pela NSA), que além de ter uma importância enorme no atual cenário político mundial, é também uma figura movida por nacionalismo, e sua decisão de vazar informações secretas nacionais (independente de você concordar ou não com ele) foi motivada não por traição, mas sim por revolta de ver o país que defende sendo responsável por ações tão imorais.

E dentro do que se propõe o filme é bastante eficiente, conseguindo ilustrar de maneira didática, mas não excessivamente expositiva, a vastidão do sistema de espionagem americano, conseguindo fazer com que vários detalhes técnicos sejam facilmente entendidos pelo público, e suas dimensões imorais fiquem claras (como o sistema que permite a Agencia Nacional de Segurança ter acesso a webcams ao vivo por todo o mundo).

Apostando em uma montagem dinâmica que permite que até mesmo os momentos mais técnicos da trama sejam retratados de maneira interessante, o experiente diretor Oliver Stone também é hábil em criar tensão e acerta por sua abordagem discreta, ainda que traga alguns clichês mais óbvios, como ao trazer o protagonista sumindo dentro de uma luz branca ao se ver “livre” após conseguir fugir com as informações que pretende divulgar.

Mas mesmo sendo didático quanto a suas denúncias, o roteiro escrito pelo próprio diretor em parceria com Kieran Fitzgerald não deixa de se prejudicar por perder muito tempo em subtramas políticas que acabam deixando o ritmo bem mais monótono do que o necessário – especialmente em sua hora final. Por outro lado, é interessante como a dupla consegue encaixar função até mesmo para um traço de personalidade mais caricato do personagem, como a sua mania de andar sempre com um cubo mágico.

Também não posso deixar de elogiar a excelente atuação central de Joseph Gordon-Levitt, que imita a voz original de Snowden de maneira impressionante e natural, convencendo também pelos trejeitos tímidos, como o leve ajeitar de óculos, que passam a personalidade inicialmente introspectiva do personagem, que percorre um arco dramático interessante, onde no início se mostra mais conservador dizendo que “não gosta de criticar o governo” como a “mídia liberal”, e no fim acaba sendo responsável por algo que esses mesmos conversadores hoje consideram uma traição.

Ilustrando de maneira bastante didática como a “guerra contra o terrorismo” acaba sendo apenas uma desculpa para atos ilegais que beneficiam os EUA politica, social, e economicamente, Snowden é mais um bom filme na carreira de Oliver Stone, que mais uma vez equilibra seu amor a seu país com o bom senso de alguém que não é cego para atos imorais.

Bom!

João Vitor, 13 de Dezembro de 2016.


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