terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Crítica: Demônio de Deon, de Nicolas Winding Refn

Demônio de Neon se passa em Los Angeles e segue a jovem modelo Jesse (Elle Fanning), que se muda para a cidade em busca de oportunidades na indústria da moda. Dona de uma beleza natural que conquista a todos, ela não demora a conseguir sucesso em sua carreira, mas tem que lidar com um universo novo, baseado em disputa de egos, para o qual não está preparada.


Demostrando cuidado para compor quadros visualmente complexos desde a primeira cena, o diretor Nicolas Winding Refn (do ótimo Drive e dos razoáveis Só Deus Perdoa e Bronson) demostra um total controle estético sobre o filme, achando espaço também para planos tematicamente interessantes, como aquele que traz uma modelo rejeitada quebrando um espelho. Além disso, a diretora de fotografia Natasha Braier apropriadamente investe em fortes cores neon durante toda a projeção, o que dialoga com o título da obra e também faz sentido se encararmos a estética não como algo literal, mas sim como algo subjetivo do ponto de vista da protagonista (assim as cores vibrantes e exageradas têm mais do que apelo estético, representam como a personagem enxerga esse novo mundo onde está inserida – reforçando seu deslumbramento, mas trazendo também certo desconforto e estranhamento).


O roteiro, escrito pelo próprio diretor em parceria com a estreante Mary Laws, tem seus méritos ao retratar o sexismo descarado da indústria da moda (como, por exemplo, ao trazer em vários momentos personagens perguntando à protagonista “com quem ela está dormindo?” para ter tanto sucesso). Por outro lado, diversos diálogos soam completamente rasos e obvieis, como aquele que retrata uma discussão em um restaurante e traz um personagem dizendo que o que importa é a “beleza interior”, ou outro que traz a protagonista conversando sobre seus sonhos com um amigo – momentos que demostram fragilidade temática e também falta de confiança na capacidade do espectador.

Em relação às atuações, a única que pode demostrar alguma humanidade é Elle Fanning, já que todos os outros personagens são praticamente robôs (em alguns casos isso faz parte da crítica do filme, mas em outros não), e ela se sai surpreendentemente bem, sendo competente em evocar compaixão e afeto por parte do espectador, conseguindo também dosar muito bem o desconforto e a empolgação inicial de sua personagem (a cena que a traz recebendo uma notícia de uma executiva de uma empresa de moda é particularmente boa).


Já a trilha sonora de Cliff Martinez (que já tinha feito um bom trabalho com o mesmo diretor em Drive) peca um pouco por ser repetitiva e, por consequência, mais cansativa do que deveria. Mas por outro lado, o fato de ser tocada em timbres sintéticos funciona para passar o desconforto desejado pelo diretor, e também serve como complemento temático ao fato de o filme falar sobre artificialidades.

Trazendo um ato final recheado de metáforas que mesmo coerentes não deixam de ser decepcionantes, Demônio de Neon é um filme que prende a atenção mesmo com uma narrativa lenta, trazendo um visual deslumbrante e alguns momentos inspirados, mas falha por ser tematicamente raso e tentar parecer mais do que realmente é.

O.K.

João Vitor, 10 de Outubro de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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