sábado, 31 de dezembro de 2016

Crítica: Meu Amigo Hindu, de Héctor Babenco

Meu Amigo Hindu é um filme que funciona muito bem como drama, mas falha pela necessidade do diretor em homenagear a si mesmo, fazendo com que a obra soe como algo pretensioso e aborrecido.
O roteiro escrito pelo próprio diretor Héctor Babenco (responsável por um dos maiores clássicos do cinema brasileiro, Pixote: A Lei do Mais Fraco) conta sua autobiografia, focando no período em que lutou contra um câncer e usou seu amor pelo cinema como arma para enfrentar a doença.


Pretensioso literalmente desde seu primeiro segundo, ao incluir um letreiro assinado pelo próprio diretor que diz que “conta a história da melhor maneira que sabe”, o filme tenta se estabelecer como uma homenagem ao cinema, mas logo se desenvolve para uma celebração da carreira e do caráter de seu protagonista – o que se torna um tanto quanto egocêntrico quando sabemos que o personagem é o próprio diretor.

Sem poupar sutilezas até no nome de seu alter ego (que traz o sobrenome “Fairman” – “homem justo”), o diretor e roteirista se esforça ao máximo para celebrar seu próprio talento e integridade, trazendo seu personagem sofrendo pressão até do próprio pai e irmão em nome da ganância. Mas aparentemente Babenco não percebe que enquanto tenta se pintar como uma pessoa honesta e justa não consegue evitar que o personagem soe completamente desagradável e antipático por conta de seu sexismo escancarado – ainda que aqui o ótimo trabalho de interpretação de Willem Dafoe compense um pouco, já que adiciona fragilidade ao personagem e consegue gerar empatia no público.

Mas deixando de lado o egocentrismo, o roteiro tem sim seus méritos. Além de alguns momentos inspirados de humor (“Ele é um artista, não o incomode com política” diz um personagem em certo momento), a iminência da morte surge de maneira palpável e forte na trama, adicionando uma boa dose de melancolia. Além disso, a referência ao clássico O Sétimo Selo surge de maneira orgânica e equilibra muito bem humor com drama.

Por outro lado, ao se esticar demais mesmo depois de o tratamento médico do personagem acabar, o filme soa sem foco e acaba levando o espectador aos créditos finais bem mais cansado do que deveria.

Já a parte técnica está excelente. Como já demostrou ao longo de sua carreira, Babenco se mostra muito eficaz em criar uma atmosfera triste e melancólica para a narrativa. Apostando em uma trilha sonora instrumental discreta, que valoriza muito os sons diegéticos (aqueles que os personagens também ouvem), o diretor constrói os ambientes hospitalares como lugares opressores e claustrofóbicos. Além disso, a fotografia cheia de cores frias reforça o sentimento impessoal das cenas que acompanham o tratamento médico do protagonista, e as constantes sombras que enchem o quadro ao longo da projeção podem ser interpretadas como a ameaça da morte, que parece sempre à espreita.

Funcionando como drama, mas falhando em sua pretensão e em sua necessidade de se homenagear, Meu Amigo Hindu é um filme regular, que consegue comover em alguns momentos ainda que em outros provoque apenas tédio.

O.K
João Vitor, 30 de Novembro de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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