sábado, 31 de dezembro de 2016

Crítica: O Homem nas Trevas, de Fede Alvarez

O Homem nas Trevas é um filme envolvente e assustador que mesmo com um roteiro esquemático consegue se estabelecer como um dos melhores grandes lançamentos do ano.


A história se passa em Detroit, cidade americana que pediu falência após a crise de 2008 e que está praticamente abandonada, e acompanha três jovens criminosos que decidem roubar uma grande quantia de dinheiro de um velho militar cego que mora sozinho. Mas quando eles invadem a casa descobrem que o senhor não é tão debilitado quanto parece, e logo se encontram sem saída tendo que lutar por suas vidas.

A direção segura de Fede Alvarez talvez seja a principal força do filme. Eficiente em estabelecer a geografia limitada do filme em sua meia hora inicial, com longos planos sequência que passeiam pela casa apresentando os diversos elementos que eventualmente serão fundamentais, o diretor ainda brinca com a expectativa do público e dosa muito bem os sustos mais exagerados.

Já a fotografia de Pedro Luque merece créditos por conseguir se manter compreensível mesmo o filme se passando praticamente todo de noite em um lugar mal iluminado, equilibrando muito bem as sombras e as luzes amareladas ameaçadoras. Além disso, a decisão de mergulhar a tela em luz cinza para sugerir a total ausência de luz é de uma beleza plástica sublime e foge do que seria o convencional (o verde de visão noturna).


O trabalho de som também não fica para trás. Trazendo em diversos momentos um silêncio praticamente absoluto que gera uma tensão absurda, o filme também não exagera em músicas instrumentais óbvias e valoriza muito os sons diegéticos (aqueles que os personagens também ouvem), o que é uma decisão acertada e coerente tendo em vista que a audição representa a força do vilão e, por consequência, a fraqueza dos heróis.



O roteiro escrito pelo próprio diretor em parceria com Rodolfo Sayagues tem seus clichês de gênero, mas traz um subtexto interessante e crítico sobre o “American Dream” (o fato de o homem cego ter perdido a visão na Guerra do Iraque, a história se passar em uma cidade falida, e a casa de um dos personagens trazer uma enorme bandeira dos Estados Unidos em sua fachada não é à toa). Além disso, a construção dos personagens é bastante esquemática, mas não deixa de ser eficiente (um criminoso inconsequente, dois anti-heróis que agem por motivações humanas para gerar identificação com o espectador, e um vilão indestrutível). O texto só erra mesmo ao se render a um moralismo e sugerir que o sadismo do vilão se deve à sua falta de fé.

Se encerrando em uma nota que equilibra muito bem todos os possíveis caminhos que a história poderia tomar (mais pessimista, mais cínico, mais recompensador, etc.), O Homem nas Trevas é um ótimo filme, que prende a atenção até seu segundo final e mostra que mesmo uma premissa convencional pode gerar bons frutos se estiver nas mãos certas.

Muito Bom!

João Vitor, 18 de Setembro de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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