domingo, 25 de dezembro de 2016

Crítica: Café Society, de Woody Allen

Não é fácil fazer um filme por ano. Sendo assim, é surpreendente que Woody Allen, mesmo aos 80 anos, consiga manter uma regularidade tão grande na carreira, que mesmo repleta de obras feitas no “automático”, presenteia o Cinema com um ótimo filme a cada pelo menos 3 anos. E agora, após os bons Magia ao Luar (2014) e Homem Irracional (2015), o diretor comanda seu trabalho mais fraco desde o mediano Para Roma Com Amor (2012), ainda que se trate de um filme admirável por trazer elementos técnicos novos para uma carreira já tão longa, mas que deixa a desejar em relação à estrutura e temática.


Ambientado nos anos 30, o filme segue o jovem Bobby (Jesse Eisenberg), que se muda de Nova York para Los Angeles para viver com seu tio Phil (Steve Carell), um influente produtor na indústria cinematográfica. Chegando já ele se apaixona por Vonnie, sem saber que esta mantém um relacionamento secreto com seu tio, que é casado.

Recheado de momentos que só poderiam mesmo ter sido escritos por Woody Allen, como a cena que envolve uma discussão entre o protagonista e uma garota de programa, ou então frases como “A vida é um comédia escrita por um comediante sádico” ou “Pena que a religião judaica não acredita em um pós-morte, eles teria bem mais clientes”, o roteiro até cria um conflito principal interessante (mesmo que bastante familiar em relação aos outros filmes de Allen), mas se prejudica muito por sua estrutura.

Em sua primeira metade, ambientada quase toda em Los Angeles, o filme perde muito tempo em uma subtrama dispensável envolvendo um irmão do protagonista, que por mais que gere reflexões interessantes (principalmente sobre como a religião é utilizada para aliviar as dificuldades da vida), acaba funcionando muito mais como uma maneira de tirar o foco da trama principal. Já a segunda parte, passada em Nova York, tem seus momentos inspirados, mas peca por se estender demais, mesmo após a resolução do conflito principal, e o que era para ser apenas um breve epílogo vira um longo e cansativo capítulo final.

Mas dito isso, Woody Allen merece muitos créditos por se preocupar em mesmo com uma história convencional, trazer elementos até então inéditos em sua carreira. O principal destaque, obviamente, fica por conta da belíssima fotografia de Vittorio Storaro (responsável por obras-primas como Apocalipse Now), que não só evoca de maneira brilhante o espírito dos anos 30, como ainda cria um belo contraste entre as cores cinzas e dessaturadas de Nova York e as cores quentes, que parecem iluminadas por luz solar, de Los Angeles.

O elenco também não decepciona. Kristen Stewart consegue ser doce mesmo quando não concordamos com suas decisões, e Jesse Eisenberg se mostra completamente à vontade ao encarnar a já tão conhecida persona de Woody Allen, cheia de maneirismos neuróticos. E Steve Carell, ator de quem sou um enorme fã, traz um timing cômico impecável (a cena que o traz tendo uma conversa secreta ao telefone é hilária!), mas deixa um pouco a desejar ao ter que evocar o drama e os dilemas de seu personagem.


Mas mesmo sendo um filme familiar, e até bastante irregular, Café Society tem suas peculiaridades, e não deixa de ser uma boa diversão para quem, como eu, já é fã de Woody Allen, ainda que eu espere que seu trabalho do ano que vem seja melhor.


Bom.


João Vitor, 28 de Agosto de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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