domingo, 25 de dezembro de 2016

Crítica: Caça Fantasmas, de Paul Feig

Caça-Fantasmas (ou como deveria ser: “As Caça-Fantasmas”) é um dos filmes mais divertidos do ano, funcionando como comédia graças ao ótimo timing cômico de seu elenco e conseguindo ainda ser uma homenagem ao Caça Fantasmas original, sem que para isso precise repetir suas ideias.


O roteiro começa seguindo Erin Gilbert (Kristen Wiig), uma respeitada professora universitária que é demitida após a descoberta de um livro antigo seu sobre atividades paranormais, escrito em parceria com sua amiga de infância Abby Yates (Melissa McCarthy). Mas após alguns eventos estranhos envolvendo fantasmas serem presenciados na cidade, as duas se unem à engenheira Jillian Holtzmann (Kate McKinnon) e à funcionária do metrô Patty Tolan (Leslie Jones) para combater essa ameaça e salvar Nova York.

Se beneficiando desde o início pela forte dinâmica entre as atrizes principais, o diretor Paul Feig (das ótimas comédias Missão Madrinha de Casamento e A Espiã que Sabia de Menos) mais uma vez demostra um excelente timing cômico e deixa as piadas surgirem de maneira natural, impedindo que os momentos menos inspirados pareçam embaraçosos. E assim como acontecia em A Espiã que Sabia de Menos (que além de comédia, funcionava também como um filme de espionagem), o diretor demostra mais uma vez um enorme talento para conduzir sequências de ação e até momentos de criação de tensão, fazendo o filme funcionar em vários níveis.

Vale apontar também que Feig faz um uso muito interessante do 3D, ao utilizar uma razão de aspecto que deixa pequenas faixas pretas em cima e em baixo da imagem, podendo assim fazer com que alguns elementos (como os raios das heroínas e as gosmas dos fantasmas) saiam da imagem e invadam esses espaços pretos, dando a ilusão de que realmente estão saindo da tela, e criando uma sensação de imersão que poucos filmes conseguem fazer.


E para isso o trabalho de efeitos visuais também é impecável, sendo inventivo no designe dos fantasmas (que são um equilíbrio interessante entre assustador, engraçado, e homenagem ao filme original), acertando ainda por trazer sempre muitas cores vibrantes (principalmente azul e verde), o que cria um senso de ameaça eficiente e também beneficia o 3D.

Já o roteiro escrito pelo próprio Paul Feig e por Katie Dippold acerta por não copiar a estrutura do primeiro Caça-Fantasmas, nem tampouco tenta fazer com que as novas personagens sejam versões do quarteto original. Ainda assim, o vilão deixa bastante a desejar, sendo bem genérico em seus planos e motivações, e toda a subtrama envolvendo o prefeito de Nova York é bem mal desenvolvida (ainda que gere alguns momentos genuinamente engraçados por conta do talento do elenco).

Mas dito isso, o fato é que o roteiro funciona muito bem como uma homenagem ao filme original de 1984 (destaque para a maneira como o logo do grupo é revelado), e as participações especiais não deixam de ser divertidas, por mais que uma em específica se estenda bem mais do que o necessário.
O elenco também não decepciona nem um pouco. Melissa McCarthy demostra mais uma vez um grande talento para o humor físico (destaque para a cena que envolve um jato de raio descontrolado) e Kristen Wiig protagoniza o filme não apenas com um ótimo timing cômico (a dinâmica dela com Chris Hemsworth é excelente), como também gera empatia através de sua fragilidade e modos desajeitados.

Fechando o grupo principal temos também Kate McKinnon, que é provavelmente a mais segura das personagens, e por fim Leslie Jones, que é responsável por um dos momentos mais engraçados do longa (aquele que envolve uma referência ao clássico O Iluminado).

No elenco secundário temos ainda Charles Dance, em uma versão moderna de Tywin Lannister, e Chris Hemsworth, que se diverte fazendo a versão masculina do estereotipo de secretária bonita, mas sem inteligência (o que não deixa de ser uma piadinha irônica com os comentários machistas recebidos pelo filme antes mesmo de seu lançamento).

Sendo uma homenagem a um clássico, mas ao mesmo tempo um filme original e acima de tudo muito divertido, Caça-Fantasmas não só vale o ingresso (3D, se possível) como ainda prova que nem sempre motivações financeiras são os únicos objetivos dos constantes remakes.

Muito Bom!
João Vitor, 16 de Julho de 2016.


Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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