sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Crítica: Doutor Estranho, de Scott Derrickson

Vejam só que novidade: mais um filme de super-herói!

A boa notícia é que este novo Doutor Estranho é um filme que, mesmo convencional e formulaico, ao menos se preocupa em trazer elementos visuais realmente originais e interessantes, além de contar com uma atuação central inspirada de um ótimo ator.


A trama é o que já é esperado de um filme do gênero: um homem arrogante sofre um acidente e no processo de recuperação ganha superpoderes, combate o mal, e aprende a ser uma pessoa melhor.

Em relação ao roteiro, não há nada de novo aqui. O arco do protagonista é o mais convencional possível, o vilão tem motivações completamente genéricas, e diversos diálogos são recheados de clichês (“Esqueça tudo o que você pensa que sabe” – quantos outros filmes não trazem uma versão desta frase?).

Felizmente, porém, o texto escrito por Jon Spaihts, C. Robert Cargill e Scott Derrickson também tem sua dose de acertos. O senso de humor é bastante afinado (gosto particularmente de uma piada que envolve a Beyonce – em um raro momento de sutileza do filme), e o embate entre a ciência racional do protagonista e a magia de seu novo mundo também rendem momentos inspirados. Além disso, a abordagem dada à capa usada pelo protagonista também é muito divertida e brinca com clichês de maneira original.

Mas o que realmente faz o filme valer a pena são seus conceitos visuais, que não apenas são impressionantes do ponto de vista técnico como também servem à narrativa organicamente. E justamente por conseguir representar visualmente conceitos tão abstratos, me arrisco a dizer que este trabalho de efeitos visuais será o meu favorito na corrida pelo Oscar. E por serem tão impressionantes também não posso deixar de recomendar a versão 3D, apesar da paleta acinzentada que perdura por boa parte na narrativa prejudicar muito a terceira dimensão.


Sendo assim, não deixa de ser uma pena que o diretor Scott Derrickson (que vem do cinema de terror – uma aposta interessante do estúdio) se limite a coreografias tão genéricas para as sequências de ação, e aposte em uma trilha sonora tão onipresente e desprovida de sutilezas (ainda que alguns temas sombrios que acompanham os vilões tenham me agradado).

Já no elenco, o maior destaque fica por conta de Benedict Cumberbatch, que protagoniza o filme com um equilíbrio perfeito entre arrogância e carisma, convencendo até nos momentos mais genéricos e artificiais do longa. Tilda Swinton também se mostra completamente à vontade em um papel feito na medida para ela: uma anciã misteriosa e sábia.


E se Rachel McAdams e Chiwetel Ejiofor conseguem deixar fortes impressões mesmo sendo subutilizados, Mads Mikkelsen, como vilão, se prejudica por ter pouco tempo de tela e motivações convencionais, mas conta com uma caracterização sombria e ameaçadora e consegue criar um personagem levemente interessante.

Cansando ainda por seu longo e repetitivo terceiro ato, Doutor Estranho é um filme esquecível e genérico, mas é também uma experiência cinematográfica visualmente impressionante e muitas vezes até original, valendo a pena por sua criatividade estética, por pontuais momentos inspirados de humor, e por sua ótima atuação central.


Bom.

João Vitor, 3 de Novembro de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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