sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Crítica: Jason Bourne, de Paul Greengrass

Gostando ou não, não há como negar que a série Bourne tem uma importância enorme para o cenário atual de filmes americanos de ação. Se iniciando em uma época em que uma das maiores franquias de espionagem (007) estava cada vez mais desacreditada, a saga serviu de molde para reanimar não só a própria franquia de James Bond como também as continuações da série Missão Impossível e tantos outros filmes do gênero, que passaram a adotar cada vez mais histórias que mesmo recheadas de ação e montagens paralelas traziam constantemente motivações pessoais para as decisões de seus protagonistas.

E agora neste seu quinto volume, Jason Bourne, a saga consegue se atualizar e se encaixar em um contexto histórico que mudou bastante nos últimos dez anos, mas apesar de o filme ser consideravelmente melhor que seu antecessor (o dispensável O Legado Bourne), ainda fica bem atrás dos três primeiros longas que marcaram a força da franquia.


Ambientado dos dias atuais, o filme segue mais uma vez o personagem Jason Bourne, que vive isolado no anonimato – evitarei detalhes para não deixar escapar spoilers dos filmes anteriores, mas basta dizer que ele eventualmente tem que retornar aos Estados Unidos em busca de mais informações sobre seu passado, ao mesmo tempo em que a CIA teme que vazamentos possam comprometer seus esquemas de espionagem.

Sem dúvidas, o maior mérito do roteiro (escrito pelo diretor Paul Greengrass em parceria com o montador Christopher Rouse) é como ele encaixa os elementos característicos da série (como o confronto entre Bourne e a CIA) com os problemas do mundo atual: enquanto os primeiros filmes eram um retrato dos EUA pós 11/9, este novo volume o é sobre a sociedade pós-Snowden, onde o medo e a desconfiança sobre a vigilância governamental é constante.

Já em relação os personagens o roteiro não tem nada de novo. Apesar de trazer alguns momentos dramáticos inspirados (um em específico envolvendo um parente de Bourne entra facilmente entre os melhores momentos da saga), a opção de apostar em uma estrutura que traz o personagem convenientemente tendo flashs de memórias sempre que necessário é uma estratégia batida e que não condiz com a eficiência de um diretor como Greengrass (também responsável por dois dos filmes anteriores da série e também pelos excelentes Capitão Phillips e Voo United 93).

E por falar nele, Paul Greengrass mesmo trabalhando com um roteiro mais fraco do que o habitual, ao menos consegue trazer suas marcas registradas – ainda que estas se mostrem bem menos eficientes do que o habitual – como a constante câmera na mão e uma montagem cheia de cortes rápidos e breves elipses, que aumentam o senso de urgência experimentado pelo protagonista, ainda que muitas sequências de ação fiquem um pouco confusas por se passarem à noite.



Já o trabalho de som merece créditos principalmente por conseguir deixar os diálogos compreensíveis mesmo quando ocorridos no meio de perseguições barulhentas. E a trilha sonora de John Powell e David Buckley faz um trabalho admirável tanto nas músicas enérgicas e aceleradas que acompanham os momentos de ação, quanto ao brincarem com os ritmos percussivos, fazendo-os lembrar levemente as batidas de coração do protagonista.

No elenco temos mais uma vez um eficiente Matt Damon, que se sai muito bem ao encarnar o herói de ação, trazendo também fragilidade para o lado humano e dramático do personagem (ainda que não tenha nada de novo em relação aos filmes anteriores). Já Tommy Lee Jones se mostra completamente à vontade em um papel feito perfeitamente para ele: um chefe experiente, cheio de seriedade e imponência.

Mas os maiores destaques do elenco ficam por conta de Vincent Cassel (em seu terceiro bom filme neste ano – os outros são O Conto dos Contos e Meu Rei) e Alicia Vikander (do ótimo Ex Machina e vencedora do Oscar por A Garota Dinamarquesa). Enquanto ele encarna o personagem mais ameaçador e imprevisível da trama, ela impressiona pela determinação, surgindo em cena sempre com a expressão séria que se contrapõe completamente com sua doçura em A Garota Dinamarquesa e sua inocência/ameaça em Ex Machina.

Sendo acima de tudo um bom filme de ação, que consegue ser atual mesmo não inovando muito em relação aos seus antecessores, Jason Bourne vale o ingresso e é uma diversão que não se tornará um clássico, mas poderá ser lembrada como parte de uma boa saga e como um retrato da atual sociedade tecnológica.

Bom.

João Vitor, 18 de Agosto de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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